28 setembro 2007

Opus alchymicum

Hoje morri um pouco mais do que ontem
Amanhã já não serei eu
Apenas porque morri sem saber a exacta medida da minha morte
Apenas porque deixei de saber o que é a vida
Neste preciso momento em que deixo no passado
As memórias guardadas na poeira dos tempos
Onde fui simbiose dos outros comigoSem nunca me ter encontrado, apenas porque morri lentamente.
by Arroba

"Ser o próprio é uma arte onde existe toda a gente e em que raros assinaram a obra-prima", in Ensaio espiritual da Europa, Almada Negreiros, 1924.

27 setembro 2007


Não devendo alterar o artigo da Drª Halimatou Bourdanne, um leitor chamou-me á atenção para o uso da palavra "circuncisão", adjectivando a prática da Mutilação Genital Feminina (sigla MGF), termo que descreve esse acto com maior exactidão, é vulgarmente conhecida por Circuncisão Feminina. Confesso a minha indecisão perante a escolha da terminologia a adoptar.
No entanto esta prática não tem nada em comum com a Circuncisão Masculina.
Segundo essa tradição, pais bem intencionados providenciam a remoção do clítoris, e até mesmo dos lábios vaginais das suas filhas pré-adolescentes.
Há uma outra forma de mutilação genital chamada de infibulação, que consiste na costura dos lábios vaginais ou do clítoris.
Embora muitos códigos penais não mencionem directamente os termos Circuncisão Feminina ou Mutilação Genital Feminina, é perfeitamente enquadrado como uma forma de "abuso grave de criança e de lesão corporal qualificada". Vários organismos internacionais, como a Organização Mundial da Saúde (OMS), tem envidado esforços para desencorajar a prática da mutilação genital feminina.
A Convenção sobre os Direitos da Criança, assinada em Setembro de 1990, considera-a um acto de tortura e abuso sexual.
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26 setembro 2007

geo - política



Uma pergunta de Geo-política:


Sabem como se chama a parte da barriga da mulher que fica à vista de todos, entre as calças e a camisola (abomino a palavra top)?
- Faixa de Gaja
Porquê?
Porque abaixo está a Terra Prometida e acima estão os Montes Golâ.


P.S.- recebido por e-mail.....tá o máximo....
Foto: www.facom.ufba.br/.../imagem/libertacao.jpg368 x 303 - 16k
(todos os direitos reservados)

Apaga as estrelas, vem dormir comigo no esplendor da noite do mundo que nos foge."



"Mas hoje, ainda longe daquele grito, sento-me na fímbria do mar.
Medito no meu regresso.
Possuo para sempre tudo o que perdi.
E uma abelha pousa no azul do lírio, e no cardo que sobreviveu à geada. Penso em ti.
Bebo, fumo, mantenho-me atento, absorto – aqui sentado, junto à janela fechada.
Ouço-te ciciar amo-te pela primeira vez, e na ténue luminosidade que se recolhe ao horizonte acaba o corpo.
Recolho o mel, guardo a alegria, e digo baixinho: Apaga as estrelas, vem dormir comigo no esplendor da noite do mundo que nos foge."
Al Berto in «Lunário»

Circuncisão!




APROXIMADAMENTE DOIS MILHÕES!!!

Este é o número de meninas que, todo ano, sofrem com a circuncisão!

"Como devemos reagir quando nos deparamos com esta prática?

A circuncisão feminina é um problema importante e muito mais profundo do que se imagina. Qualquer pessoa que tente atacar este problema é confrontada com vários obstáculos – o maior dos quais é o silêncio das mulheres afectadas.


A circuncisão representa um assunto polêmico, assim como qualquer outra coisa relacionada com a sexualidade. É muito raro uma mulher consultar um médico sobre um problema ligado à sua circuncisão. Foram as mulheres intelectuais islâmicas que começaram a levantar o véu sobre esta prática.
Outro problema que encontramos é que as mulheres não educadas nem sempre concordam que a circuncisão feminina deve ser proibida. De facto, elas querem frequentemente que as suas filhas sejam circuncidadas. Estão convencidas de que este acto é benéfico, apesar dos perigos que correm.
Um terceiro problema é a nossa ignorância sobre os grupos étnicos envolvidos. Qualquer acção eficaz deve ser realizada com grande sensibilidade. Isto significa um trabalho longo e difícil para se compreenderem as suas crenças.
Como cristãos, podemos tornar nossas irmãs conscientes dos efeitos e riscos de saúde ligados a esta prática. Sabemos que a sexualidade para o casal cristão é um presente de Deus para seu prazer. Com as nossas irmãs não crentes, podemos apenas levantar estas questões mais tarde, quando tivermos ganhado sua confiança.
Se o número de mulheres educadas aumentar, é certo que esta prática entrará em declínio. A luta contra a circuncisão feminina é certamente algo a longo prazo mas que vale a pena. É apenas então que certas mulheres conhecerão a felicidade que um casal experimenta em sua intimidade e de estarem livres dos riscos para a sua própria saúde e de seus bebês."

Extracto de texto escrito pela Dra Halimatou Bourdanne, médica na Costa do Marfim.

O seu endereço é 22 BP, Abidjan 22, Costa do Marfim, África Ocidental.

24 setembro 2007

O Pássaro de bico amarelo...


Abri a janela azul, aquela janela que dá para ver o mundo inteiro.
Tu sabes qual é...

Abri aquela janela ali mesmo ao fundo, na sala onde está o sofá velhinho, moldado pelo peso dos nossos corpos.

Abri a janela azul e entrou de rompante um estranho pássaro azul, de bico amarelo...

Entregou-me um livro de capa creme.

Falava de campos azuis, névoas matinais, maresias coloridas.

Falava de sóis de dióspiro caindo de mansinho na linha do horizonte.

Já não sei se o pássaro de bico amarelo se enganou ao entrar na minha janela azul.

Afinal também se enganam no voo os pássaros!

Porque, o pássaro de bico amarelo não trazia a indicação do remetente, nem aviso de recepção!

Seria um pássaro verde?...

Seria mesmo um pássaro de bico amarelo?

Mas não era madrugada.

E o sol de dióspiro estava lá... poisado no horizonte...

da minha janela azul.

13 setembro 2007

Comemora-se este ano o centenário do nascimento de um dos nossos maiores vultos da língua portuguesa. Nasceu a 12 de Agosto de 1907 em S. Martinho da Anta e faleceu em 1995.

Muito me espanta que esta data não fosse condignamente assinalada. Ontem assisti à abertura do novo ano lectivo , com toda a pompa e circunstância Sir Sócrates e seus ministros repartiram-se por várias escolas, espalhando assim a "paixão" pela educação , apanágio do seu programa de Governo.
E o Miguel senhores??? o Miguel foi esquecido??? que "raio" de Governo é este sem memória? Será que não merecia um ministro, apenas um só, que nos fizesse sentir que temos um património literário único a que todos devemos homenagem e que não deve cair no esquecimento.
Mas não.... um povo sem memória, um governo mais voltado para as "chinesiçes" e valha-nos Deus que o Sir Socrates até já se benze....

Escritor português, natural de São Martinho de Anta, Vila Real.
Oriúndo de uma família humilde, teve uma infância rural dura, que lhe deu a conhecer a realidade do campo, sem bucolismos, feita de árduo trabalho contínuo. Após uma breve passagem pelo seminário de Lamego, emigrou com 13 anos para o Brasil, onde durante cinco anos trabalhou na fazenda de um tio, em Minas Gerais, como capinador, apanhador de café, vaqueiro e caçador de cobras. De regresso a Portugal, em 1925, concluiu o ensino liceal e frequentou em Coimbra o curso de Medicina, que terminou em 1933. Exerceu a profissão de médico em São Martinho de Anta e em outras localidades do país, fixando-se definitivamente em Coimbra, como otorrinolaringologista, em 1941. Ligado inicialmente ao grupo da revista Presença, dele se desligou em 1930, fundando nesse mesmo ano, com Branquinho da Fonseca (outro dissidente), a Sinal, de que sairia apenas um número. Em 1936, lançou outra revista, Manifesto, também de duração breve. A sua saída da Presença reflecte uma característica fundamental da sua personalidade literária, uma individualidade veemente e intransigente, que o manteve afastado, por toda a vida, de escolas literárias e mesmo do contacto com os círculos culturais do meio português. A esta intensa consciência individual aliou-se, no entanto, uma profunda afirmação da sua pertença à natureza humana, com que se solidariza na oposição a todas as forças que oprimam a energia viva e a dignidade do homem, sejam elas as tiranias políticas ou o próprio Deus. Miguel Torga, tendo como homem a experiência dos sofrimentos da emigração e da vida rural, do contacto com as misérias e com a morte, tornou-se o poeta do mundo rural, das forças telúricas, ancestrais, que animam o instinto humano na sua luta dramática contra as leis que o aprisionam. Nessa revolta consiste a missão do poeta, que se afirma tanto na violência com que acusa a tirania divina e terrestre, como na ternura franciscana que estende, de forma vibrante, a todas as criaturas no seu sofrimento. Mas essa revolta, por outro lado, não corresponde a uma arreligiosidade ou recusa da transcendência. A sua obra, recheada de simbologia bíblica, encontra-se, antes, imersa num sentido divino que transfigura a natureza e dignifica o homem no seu desafio ou no seu desprezo face ao divino. A ligação à terra, à região natal, a Portugal, à própria Península Ibérica e às suas gentes, é outra constante dos textos do autor. Ela justifica o profundo conhecimento que Torga procurou ter de Portugal e de Espanha, unidos no conceito de uma Ibéria comum, pela rudeza e pobreza dos seus meios naturais, pelo movimento de expansão e opressões da história, e por certas características humanas definidoras da sua personalidade. A intervenção cívica de Miguel Torga, na oposição ao Estado Novo e na denúncia dos crimes da guerra civil espanhola e de Franco, valeu-lhe a apreensão de algumas das suas obras pela censura e, mesmo, a prisão pela polícia política portuguesa.
Contista exímio, romancista, ensaísta, dramaturgo, autor de mais de 50 obras publicadas desde os 21 anos, estreou-se em 1928 com o volume de poesia Ansiedade.
Também em poesia, publicou, entre outras obras, Rampa (1930), O Outro Livro de Job (1936), Lamentação (1943), Nihil Sibi (1948), Cântico do Homem (1950), Alguns Poemas Ibéricos (1952), Penas do Purgatório (1954) e Orfeu Rebelde (1958).
Na ficção em prosa, escreveu Pão Ázimo (1931), Criação do Mundo. Os Dois Primeiros Dias (1937, obra de fundo autobiográfico, continuada em O Terceiro Dia da Criação do Mundo, 1938, O Quarto Dia da Criação do Mundo, 1939, O Quinto Dia da Criação do Mundo, 1974, e O Sexto Dia da Criação do Mundo, 1981), Bichos (1940), Contos da Montanha (1941), O Senhor Ventura (1943, romance), Novos Contos da Montanha (1944), Vindima (1945) e Fogo Preso (1976).
É ainda autor de peças de teatro (Terra Firme e Mar, 1941; O Paraíso, 1949; e Sinfonia, poema dramático, 1947) de volumes de impressões de viagens (Portugal, 1950; Traço de União, 1955) e de um Diário em dezasseis volumes, publicado entre 1941 e 1994. Notável pela sua técnica narrativa no conto, pela expressividade da sua linguagem, frequentemente de cunho popular, mas de uma força clássica, fruto de um trabalho intenso da palavra, conseguiu conferir aos seus textos um ritmo vigoroso e original, a que associa uma imagística extremamente sugestiva e viva.
Várias vezes premiado, nacional e internacionalmente, foram-lhe atribuídos, entre outros, o prémio Diário de Notícias (1969), o Prémio Internacional de Poesia (1977), o prémio Montaigne (1981), o prémio Camões (1989), o Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores (1992) e o Prémio da Crítica, consagrando a sua obra (1993). Em 2000, é publicado Poesia Completa

01 setembro 2007



Águas do Mondego que passam
na menina dos teus olhos
são olhos rasos de água
e o rio vai passando
a saudade
o frémito
a dor


As ruas da tua cidade
conduzem-me junto à margem


águas do Mondego que passam
negras capas
que esvoaçam
bandeiras soltas ao vento
nas ruas da tua cidade


águas do Mondego que passam
na menina dos teus olhos
e eu cega sem te ver


negras capas que esvoçam
na menina dos meus olhos
e o rio vai passando
a saudade
o frémito
a dor