17 novembro 2010

Outono

Rolos de folhas caídas
Secas, velhas, esquecidas
Entrincheiram o asfalto
A terra deste passeio
Onde adormecem sós
Os que ficaram no meio
Da tempestade passada
Do rasto da noite escura
À espera da madrugada
Do som da cotovia
Do cantar da alma
Encantada
Do canto da moura perdida
E no banco do jardim
Aquele ali solitário
Que espera um dia a visita
De um pássaro ensolarado
Que pouse, que descanse
Do seu voar fatigado.

Ana,
Vou voltando, devagar, conforme me dói cá dentro onde um estranho designio que me causa este sofrimento.
Alguém um dia me tocou e me deixou assim, neste sentir sem sentir, a esperar da vida a morte que  tarda em vir.
Talvez aí eu encontre a paz que há muito tempo perdi, talvez na morte encontre a vida que na vida não vivi.

09 novembro 2010

Pausa


Tenho mantido algum silêncio, pelo tempo exaustivo de trabalho que me desgasta, e também pelo tempo de reflexão que me acompanha.

Este blogue começou por ser uma 'folha de afectos'... marcas profundas de sentires e sentimentos que me doíam e me asfixiavam.

Assim, mesmo sem eu querer, tornou-se um lugar de culto. Aqui escrevi em noites tantas vezes do amanhecer, fragmentos de muito de mim... alegrias, tristezas, saudade, morte, prazeres estéticos, e tantos outros aspectos de que me rodeio nas noites de invernia ou de outono, como esta de luar escondido a anunciar que os tempos de bruma se aproximam.

Vários ciclos de vida se fecharam ao longo destes anos. Alguns aceitei ou optei por fechá-los... outros se fecharam abruptamente, deixando marcas de mágoas no meu âmago que necessito 'curar' ou apenas 'fingir' que esqueço!

Não vou dizer que termino por aqui... para depois voltar! Tenho visto isso e não quereria deixar passar uma falsa mensagem!

Prefiro dizer que não sei... com fortes probabilidades de não voltar.

Mas aqui virei, carinhosamente, algumas noites, tal rito de amor sentido, reler o que escrevi e os afectos que despertei nos que me visitaram.
Alguns depositaram promessas de grandes amores que deixaram rapidamente morrer... mas mesmo assim, eu guardo em mim tais íntimas e doces palavras. Pertencem-me porque me foram dadas!

Afinal, eu preferiria a vida, lá fora! Pessoas, as que me gostariam, um olhar nos olhos, um tocar, afagar... quando assim se sente e necessita! Sinto-me bem quando demonstram que 'me' gostam!


"Eu nunca guardei rebanhos,
Mas é como se os guardasse.
Minha alma é como um pastor,
Conhece o vento e o sol
E anda pela mão das Estações
A seguir e a olhar.
Toda a paz da Natureza sem gente
Vem sentar-se a meu lado.
Mas eu fico triste como um pôr de sol
Para a nossa imaginação,
Quando esfria no fundo da planície
E se sente a noite entrada
Como uma borboleta pela janella.

[...]



Alberto Caeiro, 'O Guardador de Rebanhos', 08.03.1914