24 fevereiro 2013

Saudades

Este meu coração enlouqueceu de vez
apostado em dar cabo da razão
a pouca que me assiste e já tão débil

qual o remédio para tal loucura
pois já nem sei quem sou
nem o que de mim procura
a outra parte tão perdida
se somos dois ou três
a procurar
o que devia apenas ser um
E saudade enganadora
a fazer lembrar o que não existe
e toda esta vida feita cansaço
ah, deixem-me dormir
devolvam-me o materno regaço
e pousarei lá a cabeça
enquanto tu mãe me afagas
as tranças negras e delas
retiras todo o embaraço.

William-Adolphe Bouguereau- óleo s/tela

18 fevereiro 2013

Pink Floyd - A saucerful of secrets (Ummagumma version)


Um sopro, uma aragem
arrepio, frio
morno, calor.
Toque recente, verde
de vagem.
Semente, veludo
passagem
e explode.
Grita, tão perto
não ouve
insiste, desliza
escuro caminho
pisa incerto
Corpo, dor
imenso deserto
Nota só
clave fechada

17 fevereiro 2013

O Barqueiro



Caronte o barqueiro de Hades

Nas águas suaves da memória rolam barcos
carregando  sentimentos
desfraldam emoções brancas
parecem nuvens a branquear
o que para trás fica,
seguem vagarosas, deslizam
cisnes em forma de gotas
levam nas penas segredos eternos
ondulam pequenos toques de sal
escamas rosadas, opalinas
marcas do que não se esquece nunca
e é eterno.
Uma voz recôndita brilha no horizonte
redonda garganta de fogo ardente
foz e destino deste barco.

Maria João Nunes (17-02-2012)


16 fevereiro 2013

Vulcão


A gente às vezes cansa-se e pára
deveria ser para pensar,
Mas não pensamos muito mais
nem tão pouco conseguimos parar
e porque toda a acção anula o pensamento
Mas, devo dizer que não consegui
nem pensar, nem parar
e as minhas mãos foram tão poucas
insuficientes neste vulcão que teima em expelir
maldita lava que me queima
maldita cratera por onde sai o pensamento
que não me deixa parar
e , olho estas minhas mãos a pensar
que nada mais tenho que faça a ligação
com o mundo. Lá fora tudo parece inerte
tudo vai jazendo numa onda de rotina
se um dia este vulcão irromper
arrastará atrás dele toda a lama
que sujou a fímbria da minha alma.