Em Portugal passa das 4 horas da tarde, sei que chegaste bem a Ancara. Telefonaste do átrio do hotel, em
pleno parque de Sultanahmet perto de
Aya Sofia, a jóia da coroa de Istambul, a Igreja da Divina Sabedoria, (Aya
Sofya em turco), hotel cujo nome apontei à pressa num post it. Fiquei apreensiva porque disseste que irias dar uma volta
pela antiga Constantinopla sozinho; isto depois de teres almoçado no
restaurante daquela estação que se tornou famosa pelo Expresso do Oriente – essa mesma
de onde o Calouste Gulbenkian partiu um dia em fuga.
Porque terei de
andar sempre com o coração nas mãos sempre que te ausentas para zonas cada vez mais inseguras? É certo que o mundo é um lugar perigoso, creio que nos tempos que correm ninguém pode escapar ao seu destino. Tenho saudades do tempo em que juntos deambulávamos- em paz - naquele colorido mercado de especiarias ( ao longe ouvia-se o murmurejar dos cruzeiros
nas caóticas docas de Eminönü - próximas
ao mercado), visitámos depois a mesquita de Süleymaniye; recordo aquele passeio pelo Bósforo , a paisagem ondeava ao longe com as fortalezas de Rumeli,
a da Anatólia do lado asiático e várias mesquitas e palácios ao longo do
estreito, até alcançar Anadolu Kavagi, a poucos quilómetros do mar Negro. Em
Anadolu Kavagi, o ferry parou durante 3
horas, foi aí que depois do almoço explorámos o
castelo de Kavagi. Foi aí que me prometeste que tudo seria diferente, que não
voltarias a aceitar missões que envolvessem risco de vida.
No regresso, à passagem pelo palácio
Dolmabahce, vimos juntos o sol a deitar-se no horizonte.
E hoje a realidade sobrepõem-se às
memórias felizes – mais um atentado - desta vez na praça Sultanahmet, perto da mesquita Azul e
da igreja de Santa Sofia, os monumentos mais visitados do país e perante o
terror dos turistas que ali estavam. A detonação foi ouvida a quilómetros
de distância, perante o relato da existência
de corpos mutilados o meu coração fica apertado, com o medo que nele se instala.
Digo baixinho que sou forte e que não cederei perante ameaças de gente
cruel e desumana, evito pronunciar os seus nomes, apenas o teu repito alto e em
bom som. Volta depressa.