20 outubro 2012

Fogo Fátuo





A Manuel António Pina ( 1943-2012)

Sabes porque não te olho nos olhos?
Porque o gelo do teu olhar
Embaciou as janelas da minha alma
É como se dentro de mim fosse Primavera
Sempre num eterno florescer de esperança
Mas lá fora, dentro de ti, há um imenso inverno
Um gelar de água parada no rio
Uma natureza adormecida
Um hibernar do teu ser, corpo transido de frio
Onde já não existe vida.
E mesmo assim, ainda te sinto, tão cega de amor que ando
Numa lenta combustão em que te fico esperando.
Desvio o meu olhar pelo transeunte que passa
E sendo apenas um ou todos os que na rua ou na praça
Se cruzam com este fogo, que sem verem onde está
Se o vissem apenas diriam que seria fogo fátuo
Como se eu fora apenas a sombra que liberta devagarinho
Crescendo daquela lápide que está no teu caminho.

Maria João Nunes ( 20-X-2012)