23 junho 2009

Marinhas

Pintei-te em tons de azul e verde
Maresias, brisas
Ondas de tule a voar
Linho branco tingido
Com todo este imenso mar
Nunca tu soubeste afinal,
Qual o oceano que pintei
Que tesouros nele guardava
Que sonhos nele enterrei.
Daqui a muitos, muitos anos,
Séculos, uma eternidade
Um olhar irá poisar
Nesse mar que eu tanto amei
Sem nunca descobrir
Que o azul era paixão
O verde era a vida
Encerrada num caixão
Que de encontro aos rochedos
Se desfez
Em branco linho
E veio morrer na praia
Chorando muito baixinho

19 junho 2009

Miragens

Sou eterna filha do deserto
Sempre a clamar
Por uma sombra
Onde meu coração
Possa descansar.
Ergo-me ao vento
Que fustiga a carne
Deixando fios de linho
A esvoaçar.
Gritos mudos
Como almas de pássaro
Que não tem onde poisar.

As miragens espreitam
a cada olhar meu
Deitado ao horizonte
Alcançando oásis
Feitos de saudade
E o meu corpo jaz
Quase amortalhado nessa ansiedade.
Os meus olhos quietos, baços
Já sem vida, escavados na dor
São agora , apenas
Um espectro, um grito mudo
Sem eco de amor.

18 junho 2009

Pudesse eu.......

Dominar-te a ti
Ò dor
Eterna testemunha
Do tempo
Enfeixado em
Simultâneo e fraternal
Passado, Presente e Futuro
Através do tempo
Que nos leva.
Ou, seremos nós
Que o levamos ?
Guardando dentro
A partitura da vida.
Estranhas visões
Que nos modelam
Passo a passo
Iludindo-nos e,
Dominando a mágoa
Com um sorriso
Inglório
Que logo esmorece
Quando as sombras se adensam
Na estrada incerta do tempo.
Expectante fica o destino
Sabendo que lhe minto
Não realizando nunca
Mergulhada em absinto
Estonteada na loucura
De não querer ser apenas pó
Na ampulheta das tuas mãos.
E contudo, o meu velho coração
Cansado, revestido de paciência
Espera ainda
Um sopro , que realize
O milagre de te poder sentir
Acordar no resto do
Tempo que nos falta cumprir.

02 junho 2009

Veludos...



Erguera-se lentamente
Arqueando em meia - elipse
Preguiçoso
Envolto
Em veludo escuro.
Lançou no ar
Um sopro quente
Expirado
Sorveu atento
Interessado
Na noite quieta
Aromas de outros corpos
Que deambulavam,
Atentos
Sôfregos
Esfomeados
Ousando sonhar
Crateras esventradas
Onde rios cor de rubi
Morreriam
Sugados
Manchando
O veludo negro.

Saltou
Depois da dança
E aterrou
Faminto
Falhou
E novamente tentou
Cravando punhais de marfim
Afiados
Rasgando
O gemido
Que logo calou

Ao longe
Tambores
Forravam a noite
Quente.
E o céu ,
Gigantesco candelabro
Velou
A presa e o predador.
Em combate desigual
Finalmente terminou.