Não voltarei a esse corpo;
e não sei
se aqueles que o vestiram antes e depois
de mim souberam nele o verdadeiro calor e lhe conheceram os perigos,
os labirintos,
as pequenas feridas escondidas.
Não voltarei provavelmente a sentir a respiração palpitante desse corpo,
desse lugar onde as ondas rebentavam sempre crespas junto do peito,
do meu peito também,
às vezes.
Uma noite outro corpo virá lembrar essa maresia,
o cheiro do alecrim bruscamente arrancado à falésia.
E eu ficarei de vigília para ter a certeza de quem me recolheu,
porque os cheiros tornam os lugares parecidos,
confundíveis.
Quando a manhã me deixar de novo sozinha no meu quarto trocarei os lençóis da cama por outro, mais limpos.
Maria do Rosário Pedreira
Nasceu em Lisboa em 1959. Licenciou-se em Línguas e Literaturas Modernas na Universidade Clássica de Lisboa. Foi professora de Português e Francês durante cinco anos, actividade que a influenciou a escrever para jovens. Ingressou posteriormente na carreira editorial, desempenhando actualmente as funções de editora. Publicou poesia, ficção e literatura juvenil. Recebeu os prémios Sebastião da Gama, Poême, Maria Amália Vaz de Carvalho, Verbo/Semanário e uma menção honrosa no prémio Ruy Belo
28 setembro 2009
21 setembro 2009
Fragmentos de um discurso
Quanto mais amo o desejo
Menos o posso dominar
Tantos corpos que desejo
Apenas a um posso amar.
Terrível dilema este
Amar o amor e,
Não saber se te amo a ti.
Sopro de palavra perdida
Alma doce e pervertida.
Choro-te ó musa ilusória
Renuncio-te em luta violenta
Contra mim própria inflijo
Todo o Imaginário da tormenta.
Onde está a Verdade deste mundo?
Aquela que me electrizava?
Sonhei-a mais que a vida
Muito mais do que o ar que respirei
Deixei-me armadilhar
Ao procurar-te eu sufoquei.
Sonhei-te assim, como se a tua pele
Fossem palavras,
Sempre que te ouvia, me via a mim
Em ti
Envolta na emoção dos significados.
Não te escreveria desta forma
Se existisses e me tocasses
Não serias uma alocução secreta
Exorcismo de todos os pecados.
Menos o posso dominar
Tantos corpos que desejo
Apenas a um posso amar.
Terrível dilema este
Amar o amor e,
Não saber se te amo a ti.
Sopro de palavra perdida
Alma doce e pervertida.
Choro-te ó musa ilusória
Renuncio-te em luta violenta
Contra mim própria inflijo
Todo o Imaginário da tormenta.
Onde está a Verdade deste mundo?
Aquela que me electrizava?
Sonhei-a mais que a vida
Muito mais do que o ar que respirei
Deixei-me armadilhar
Ao procurar-te eu sufoquei.
Sonhei-te assim, como se a tua pele
Fossem palavras,
Sempre que te ouvia, me via a mim
Em ti
Envolta na emoção dos significados.
Não te escreveria desta forma
Se existisses e me tocasses
Não serias uma alocução secreta
Exorcismo de todos os pecados.
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