29 agosto 2009

Árvore



Algures, nasceu já
a árvore que te acompanhará
no finito da tua existência.

Negros pássaros esgaravatam
serenos, à sombra dela.
Alta e frondosa
Tão verde e bela.

Ergue-se altiva
ondulando na brisa
envolta em paz.
Silêncio, missiva.

Negros pássaros, melros
de canto atrevido.
Partirão um dia
em tempo devido
sem a sua sombra
e sem alarido.

Mas tu..oh tu não!
Terás que merecer
terás que sofrer
em cada pedaço
e vê-la crescer.

Uma àrvore frondosa
abatida a golpes
de máquina impiedosa.
Feita para ti.
à tua medida
emoldurando o corpo
na fotografia
para a posterioridade.
Só ela te acompanhará
fiel e cativa, mas em liberdade.
Dando-se e vindo
sabe-se lá de onde.
Como eu que fui
e não regressei
da viagem a que me aventurei.
Perdi-me na ida.

Encostei-me à sombra dela.
E juntas , chorámos abraçadas
eu queria ser árvore.
ela queria ser eu,
Apenas para te sentir
vivo.
Para que fosses meu.

26 agosto 2009

O infinito da pequenez

Sentir a água que escorre
Da vieira marmoreada
Ter ainda
Alma de fada.

Sobretudo acreditar
Em pedaços de lua
Farrapos de luar
Cavalos de pau
Que nos faziam sonhar
Brincar
Com as tranças da liana
Doce balouçar

Bonecas de olhar azul
Mudas, quedas de espanto
Magia que transforma
A brincadeira em encanto.

Pequenos seres
Que deixámos de ser
Olhando os gigantes
Passeando-se
Na floresta de diamantes

Flores vermelhas
Na toalha de mesa
Estilhaços da nossa tristeza

Infância distante
Onde tudo eu via
Sempre tão gigante
E eu, tão pequena
Mas acreditando
Nesta pequenez
Infinita e pura
Mal sabendo eu
Que Vida tão dura!

O infinito da pequenez

Sentir a água que escorre
Da vieira marmoreada
Ter ainda
Alma de fada.

Sobretudo acreditar
Em pedaços de lua
Farrapos de luar
Cavalos de pau
Que nos faziam sonhar
Brincar
Com as tranças da liana
Doce balouçar

Bonecas de olhar azul
Mudas, quedas de espanto
Magia que transforma
A brincadeira em encanto.

Pequenos seres
Que deixámos de ser
Olhando os gigantes
Passeando-se
Na floresta de diamantes

Flores vermelhas
Na toalha de mesa
Estilhaços da nossa tristeza

Infância distante
Onde tudo eu via
Sempre tão gigante
E eu, tão pequena
Mas acreditando
Nesta pequenez
Infinita e pura
Mal sabendo eu
Que Vida tão dura!

O infinito da pequenez

Sentir a água que escorre
Da vieira marmoreada
Ter ainda
Alma de fada.

Sobretudo acreditar
Em pedaços de lua
Farrapos de luar
Cavalos de pau
Que nos faziam sonhar
Brincar
Com as tranças da liana
Doce balouçar

Bonecas de olhar azul
Mudas, quedas de espanto
Magia que transforma
A brincadeira em encanto.

Pequenos seres
Que deixámos de ser
Olhando os gigantes
Passeando-se
Na floresta de diamantes

Flores vermelhas
Na toalha de mesa
Estilhaços da nossa tristeza

Infância distante
Onde tudo eu via
Sempre tão gigante
E eu, tão pequena
Mas acreditando
Nesta pequenez
Infinita e pura
Mal sabendo eu
Que Vida tão dura!

22 agosto 2009

Petrarca - Soneto XXII



Soneto XXII

S’ amor non è, che dunque è quel ch’ io sento?
Ma s’egli è amor, per Dio, che cosa e quale?
Se buona, ond è effetto aspro mortale?
Se ria, ond’ è si dolce ogni tormento?

S’a mia voglia arado, ond’ è ‘I pianto e ‘I lamento?
S’a mal mio grado, il lamentar che vale?
O viva morte, o dilettoso male,
Come puoi tanto in me s’io nol consento?

E s’io ‘I consento, a gran torto mi doglio.
Fra sì contrari venti, in frale barca
Mi trivo in alto mar, senza governo,
Sí lieve di saber, d’error sí carca,
Ch’ i i’ medesmo non so quel ch’ io mi voglio,
E tremo a mèzza state, ardemdo il verno

♥ ♥ ♥

Soneto XXII

Se amor não é qual é este sentimento?
Mas se é amor, por Deus, que cousa é tal?
Se boa por que tem acção mortal?
Se má por que é tão doce o seu tormento?

Se eu ardo por querer por que o lamento?
Se sem querer o lamentar que val?
Ó viva morte, ó deleitoso mal,
Tanto podes sem meu consentimento.

E se eu consinto sem razão pranteio.
A tão contrário vento em frágil barca,
Eu vou para o alto mar e sem governo.

É tão grave de error (1), de ciência é parca
Que eu mesmo não sei bem o que eu anseio
E tremo em pleno estio e ardo no inverno.

Fransesco Petrarca ( 1304-1374)

Tardes caídas.



Tarde ociosa
em declínio.
Areia molhada, macia.
Figura silênciosa
vulto que se perdia.
Agonia lenta, vazia
vai vestindo, devagar
a imensa praia-mar
com aromas de maresia.

Arriba fóssil
avança , densa
em negrume a transbordar.
Fatídica vaga
a trespassar o mar,
horizontes longínquos
de estrelas a brilhar.

12 agosto 2009

Barco perdido.


Na linha do horizonte,
Navegava um barco perdido
Asa de pássaro ao vento,
Memórias de um tempo ido.
Espuma desfeita em sonhos
Violência no embate
Rocha partida no cais
Casco de um coração
Abandonado em combate
ao ter perdido o arrais
No meio da ilusão.
Barco descomandado
para além daquela margem
nunca mais serás navio
nunca mais serás viagem.