27 abril 2008


"Pai perdoa-nos os nossos pecados assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido..."
Perdoaremos mesmo????? Seremos nós capazes de perdoar para nos sentirmos igualmente perdoados?

A Matança da Páscoa (1506)

A chamada “Matança da Páscoa” ocorreu em 1506. Entre duas e quatro mil pessoas terão sido mortas por serem judias. Segundo os relatos de diversos historiadores. O país e a cidade viviam um período de seca prolongada com surtos de peste quando, a 19 de Abril, alguém na igreja do Convento de S. Domingos, na baixa de Lisboa, afirmou ter visto o rosto de Cristo iluminado sobre um dos altares – sinal auspicioso da misericórdia divina e de futura bonança. Outro circunstante terá duvidado, considerando tratar-se de um simples reflexo do sol. Imediatamente identificado como cristão-novo, foi agredido pela multidão e espancado até à morte.
Um frade dominicano inflamou ainda mais os ânimos, prometendo 100 dias de indulgências a quem matasse os hereges. Durante três dias dessa Semana Santa, bandos de cidadãos percorreram Lisboa, pilhando, violando e matando judeus convertidos ao cristianismo na sequência do decreto real de 1497.
A corte estava fora da capital e as primeiras tentativas do rei D. Manuel para controlar a situação revelaram-se infrutíferas, até que a morte de um seu escudeiro, vítima dos tumultos, precipitou o envio de tropas reais, que puseram cobro aos desmandos. O rei mandou confiscar os bens dos responsáveis, o dominicano envolvido foi condenado à morte e o Convento terá sido fechado durante alguns anos.

- Embora alguns cronistas citem o Rossio e o cais, os testemunhos mais directos referem não só o Convento de S. Domingos como ponto de partida do massacre, mas também o Largo de S. Domingos como o local para onde convergiam todos os cadáveres, trazidos pelos malfeitores, onde eram empilhados e queimados; é por isso que ainda hoje esse é o lugar mais simbólico do massacre colocação de uma placa que lembre para a posteridade o sofrimento atroz dos judeus nesses dias;

Analisando alguns dos motivos que levaram ao massacre em que os judeus foram o bode expiatório de uma situação de seca, fome e peste ; alguns historiadores apontam o papel, odiado pelo povo, de colectores de impostos de que os cristãos-novos eram incumbidos pelo rei, tal como o eram quando judeus; o fanatismo religioso, mais uma vez o fanatismo é outra causa decisiva.

A questão da religião era absolutamente dominante, a força do absolutismo religioso, e a diabolização dos judeus um facto. No entanto, o Massacre de Lisboa, não deixa de ser um terrível exemplo de como se pode levar ao fanatismo - a intolerância e o ódio religioso, afinal tão distante, é infelizmente ainda tão actual.
Damião de Góis que na Crónica de D. Manuel conta que foram os filhos dos judeus a serem retirados aos pais para a conversão forçada e não os filhos dos mouros. Diz ele: “A razão pela qual el-Rei ordenou que levassem os filhos dos judeus e não os filhos dos Mouros era que os judeus, pelos seus pecados, não tinham reinos, nem domínios, nem cidades, nem aldeias, mas são – em todas as partes em que vivem – peregrinos e súbditos, desprovidos de poder e de autoridade para executar os seus desejos contra as ofensas e os males exercidos sobre eles ...”

Quando ligo a televisão, tudo o que sinto de repulsa pelo presente xadrez de ódios do Próximo e do Médio Oriente consegue estender-se até esse dia de há 500 anos atrás. Dir-se-á que estão distantes, e que são povos que nos são quase alheios; todavia para quem invoca, repetidamente, o lema do país dos brandos costumes, relembro que esses bárbaros de há meio milénio atrás, também foram nossos antepassados, ou, por palavras outras, para que conste, que todos nós, Portugueses de hoje, deles descendemos, e descendemos em linha directa de culpa.
Tantos massacres esquecidos.
Portugal começava a morrer nesse ano!
Desde África, citando apenas um exemplo da triste sorte do povo de Cabinda, até à sorte incerta dos nossos filhos, gerações vindouras sem futuro risonho neste “jardim à beira mar plantado” cada vez mais cheio de erva daninha.
Lamento…..amanhã dia 28 de Abril pelas 17 horas, estarei lá contra todas as formas de descriminação, religiosa e étnica.




Narração de Damião de Goes (ao tempo ainda criança quando isto sucedeu):

"... nestes dois capítulos, que são já derradeiros desta primeira parte tratarei de um tumulto, e levantamento, que aos dezanove dias de Abril, deste ano de mil quinhentos e seis, em Domingo de Pascoela fez em Lisboa contra os cristãos-novos, que foi pela maneira seguinte. No mosteiro de São Domingos da dita cidade estava uma capela a que chamava de Jesus, e nela um crucifixo, em que foi então visto um sinal, a que davam cor de milagre, com quanto os que na igreja se acharam julgavam ser o contrário dos quais um cristão-novo disse que lhe parecia uma candeia acesa que estava posta no lado da imagem de Jesus, o que ouvindo alguns homens baixos o tiraram pelos cabelos de arrasto para fora da igreja, e o mataram, e queimaram logo o corpo no Rossio. Ao qual alvoroço acudiu muito povo, a quem um frade fez uma pregação convocando-os contra os cristãos-novos, após o que saíram dois frades do mosteiro, com um crucifixo nas mãos bradando, heresia, heresia, o que imprimiu tanto em muita gente estrangeira, popular, marinheiros de naus, que então vieram da Holanda, Zelândia, e outras partes, ali homens da terra, da mesma condição, e pouca qualidade, que juntos mais de quinhentos, começaram a matar todos os cristãos-novos que achavam pelas ruas, e os corpos mortos, e os meio vivos lançavam e queimavam em fogueiras que tinham feitas na Ribeira e no Rossio a qual negócio lhes serviam escravos e moços que com muita diligência acarretavam lenha e outros materiais para acender o fogo, no qual Domingo de Pascoela mataram mais de quinhentas pessoas. A esta turma de maus homens, e dos frades, que sem temor de Deus andavam pelas ruas concitando o povo a esta tamanha crueldade, se ajuntaram mais de mil homens da terra, da qualidade dos outros, que todos juntos segunda-feira continuaram nesta maldade com maior crueza, e por já nas ruas não acharem cristãos-novos, foram cometer com vaivéns e escadas as casas em que viviam, ou onde sabiam que estavam, e tirando-os delas de arrasto pelas ruas, com seus filhos, mulheres, e filhas, os lançavam de mistura vivos e mortos nas fogueiras, sem nenhuma piedade, e era tamanha a crueza que até nos meninos, e nas crianças que estavam no berço a executavam, tomando-os pelas pernas fendendo-os em pedaços, e esborrachando-os de arremesso nas paredes. Nas quais cruezas não se esqueceram de meter a saque as casas, e roubar todo o ouro, prata, e enxovais que nelas acharam, vindo o negócio a tanta dissolução que das igrejas tiraram muitos homens, mulheres, moços, moças, destes inocentes, despegando-os dos Sacrários, e das imagens de nosso Senhor, e de nossa Senhora, e outros Santos, com que o medo da morte os tinha abraçado, e dali os tiraram, matando e queimando sem nenhum temor a Deus assim a elas como a eles. Neste dia pereceram mais de mil almas, sem que na cidade alguém ousasse de resistir, pela pouca gente de sorte que nela havia por estarem os mais dos honrados fora, por causa da peste. E se os alcaides, e outras justiças, queriam acudir a tamanho mal, achavam tanta resistência, que eram forçados a se recolher a parte onde estivessem seguros, de não acontecer o mesmo que aos cristãos-novos. (…) Passado este dia, que era o segundo desta perseguição, tornaram terça-feira este danados homens a prosseguir a sua crueza, mas não tanto quanto nos outros dias porque já não achavam quem matar, pois todos os cristãos-novos que escaparam desta tamanha fúria, serem postos a salvo por pessoas honradas, e piedosas que nisto trabalharam tudo o que neles foi.”

26 abril 2008

O Homem não morre quando deixa de viver, mas quando deixa de amar....(Não morra ainda!).





Viver a vida intensamente exige de cada um de nós uma entrega na busca de experiências que visem proporcionar-lhe prazer imediato. É como se cada dia vivido fosse o último da nosa existência e a vida é encarada como uma oportunidade de busca de situações que dêem sentido ao lema: "A vida deve ser aproveitada ao máximo".

A seguir, deixo aqui algumas opiniões em forma de pensamentos, poesias e mensagens de nomes famosos e desconhecidos.

Pessoas que como nós viveram ou vivem e que deixaram para a posteridade frases que nada mais significam que impressões baseadas em experiências de muitas vidas.

Mário Quintana, poeta"Vale a pena viver, nem que seja para dizer que não vale a pena..."

James Dean, actor de cinema"Sonhe como se fosse viver para sempre; viva como se fosse morrer amanhã."

Roberto Carlos, cantor e compositor

"É preciso saber viver.

Quem espera que a vida seja feita de ilusão,

pode até ficar maluco ou morrer na solidão.

É preciso ter cuidado prá mais tarde não sofrer,

é preciso saber viver.

Toda pedra do caminho você pode retirar;

numa flor que tem espinhos você pode se arranhar.

Se o bem e o mal existem você pode escolher,é preciso saber viver..."

Plutarco, filósofo grego

"É preciso viver, não apenas existir."

Alberto Einstein, cientista

"Há duas maneiras de viver a vida: a primeira é vivê-la como se os milagres não existissem. A segunda é vivê-la como se tudo fosse um milagre.

"Mahatma Gandhi, pacifista e líder hindu"A felicidade não está em viver, mas em saber viver.Não vive mais o que mais vive, mas o que melhor vive."

Augusto Vicente, poeta

"Viver é expressar todos os dias um sorriso de calma;

é apresentar se nesse pequenino palco que é a Terra;

é buscar do público fiel (sua alma) aplausos por estar vivo.

Actue com perseverança, arrisque-se, ame, viva, pois somos o produto de nossas acções e de nosso comportamento".

Charles Chaplin, actor e director de cinema

"O homem não morre quando deixa de viver, mas sim quando deixa de amar."

Cazuza, cantor e compositor"

Você está vivo. Este é o seu espetáculo.Só quem se mostra se encontra,por mais que se perca no caminho."

Cora Coralina, poetisa"

Não sei... se a vida é curta ou longa demais para nós,mas sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas.Muitas vezes basta ser:colo que acolhe,braço que envolve,palavra que conforta,silêncio que respeita,alegria que contagia,lágrima que corre,olhar que acaricia,desejo que sacia,amor que promove.E isso não é coisa de outro mundo.é o que dá sentido à vida.É o que faz com que esta não seja nem curta,nem longa demais.Mas que seja intensa,verdadeira, pura... enquanto durar."

Moacir Sader, poeta

"O que é importante...O importante é o sorriso,a pureza da criança.O importante é conservarmos a criança em nós.O importante é superar as desavenças com rápido perdão, total superação.O importante é deitar à noite com o coração em paz,com a sensação do dever cumprido,sem peso na consciência.O importante é viver com plenitude,renascendo sempre,em cada manhã..."

Gabriel Garcia Marques, escritor

"É necessário abrir os olhos e perceber as coisas boas dentro de nós, onde os sentimentos não precisam de motivos, nem os desejos de razão.O importante é aproveitar o momento e aprender a sua duração,pois a vida está nos olhos de quem sabe ver."

Comentário final:Estas citações são para si... para que diante da intensa influência de valores materialistas e consumistas de nossa sociedade, eles possam reflectir a respeito de como chegar a um ideal de vida baseado na sua própria escolha. Escolhas que, muitas vezes, entre a dúvida de viver a vida com intensidade ou intensamente, não são nada fáceis.

"A vida, como a fizeres, estará contigo em qualquer parte."Chico Xavier

22 abril 2008

Hoje foi noticia no Largo de S.Domingos em Lisboa



1506-2006
Em memória dos milhares de judeus
vítimas da intolerância e do fanatismo religioso
assassinados no massacre iniciado a 19 de Abril de 1506 neste largo
5266-5766

Podeis desistir, mas não desisto de vós...



Devo ter gerado mais outro monstro dentro de mim - Pensava eu - enquanto me olhava ao espelho, enquanto sentia, sem compreender, o que tinha sido gerado. E porque nem sempre compreendemos o que criamos!
Como era possível gostar tanto de algo que me magoava e que invadia o meu espaço?
Como é possível não pensar nos sentimentos e sentir com os mesmos o pensamento?
E agora?
Agora, sussurrava-me a minha voz interior – tens dois caminhos, (e eu dizia: não! São 4 os caminhos – estou numa encruzilhada).
Sempre continuando a olhar-me no espelho, conseguia aperceber-me, apesar do denso nevoeiro que tudo embaciava , de dois enormes poços escuros cheios de água salgada.
Tudo em redor era seco, as árvores curvavam-se sem folhas, sem húmus a percorrer o tronco.
Este monstro tinha nome, tinha raízes cada vez mais fundas e alimentava-se de mim e, contrasenso ou não, eu permitia que tal acontecesse, apenas por medo!
E o medo gera esta raiva contida, a frustração, E a vida foge ao controle, descarrila , caindo na ravina, no abismo.
Os passos ficam trôpegos, cansados, suportando um peso desmedido, apenas por medo de aliviar a carga de um tempo indeterminado sem prazo de validade em lugar nenhum.
Olhar para cima, desviar-me da imagem que criei, do espelho que me enfeitiça…
Há momentos na vida em que o silêncio fere, rasga-nos devagarinho, criando sulcos vermelhos de dor. Mas continuamos teimosamente a sofrer, porque o medo de perder a nossa linha do horizonte é maior do que o medo de perder a bússola que nos orienta para essa ou outra linha.
O monstro é o medo!
Subitamente as águas galgaram o muro, correram livres , encosta abaixo rumo ao imenso oceano, e deixaram para sempre escrito na pedra:
Grava-me,
como um selo em teu coração,
como um selo em teu braço;
pois o amor é forte, é como a morte!
Cruel como o abismo é a paixão;
suas chamas são chamas de fogo
uma faísca de Deus!
As águas da torrente jamais poderão
apagar o amor,
nem os rios afogá-lo.
Quisesse alguém dar tudo o que tem
para comprar o amor...
Seria tratado com desprezo

(Cântico dos Cânticos (Ct 8,6-7)

“Podeis desistir, mas não desisto de vós; continuarei a inundar o mundo de dons e pedir que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei."

21 abril 2008

A cadela "Tresloucada"



Na Rua do OURO, a "Tresloucada" e o seu companheiro de sorte e fortuna.
Até para ser cão é preciso ter sorte. O infortúnio une estes dois seres, bem mais humanos que muitos outros animais que se passeiam por ali...

19 abril 2008

Era uma vez um príncipe encantado.....

Era uma vez um príncipe encantado que decidiu procurar a sua princesa através da Internet, um método fácil, e bastante económico, sobretudo confortável – assim pensava o nosso príncipe.
A história que vou aqui deixar-vos é, naturalmente uma espécie de simbologia do real com algumas nuances de ficção.
O nosso príncipe encantado tratou de escolher o melhor alazão, um puro sangue lusitano, um filho do vento muito veloz, uma memória de elefante, audição e vista apuradas.
Ele queria o melhor para concretizar a busca pela sua princesa encantada!
Inscreveu-se em vários torneios, autênticos “sítios” de encontros virtuais e diversos provedores. Criou várias contas de Hotmail E começou a cavalgada!
E todas as noites cavalgava à desfilada por entre regiões nebulosas, térreas étereas, locais inacessíveis ao comum dos mortais. Visitou várias cidades, países inclusive!
E, assim, toda noite navegava à procura de sua futura mulher.
Na sua lista constavam desde terapeutas até uma ex-guerrilheira, passando por profissionais liberais, executivas, artistas plásticas, donas de casa, desocupadas, enfim, lá estava este cavaleiro andante sempre em busca do sonho e da quimera.
Consoante os locais e o tempo usava vários nomes, uma vez era Romeu e na seguinte poderia ser Gandhi ou mesmo Apolo. Bastava-lhe usar a imaginação que a fada madrinha lhe tinha dado aquando do seu nascimento.
Com o passar do tempo apresentava sinais de evidente cansaço, porque nenhuma mulher queria levá-lo a sério, mesmo mostrando todas as qualidades que um ser humano íntegro e responsável deveria possuir.
Comentava que a psicologa o tratava como paciente. A guerrilheira convidou-o para aulas de sobrevivência na selva amazônica.
E as propostas eram as mais escabrosas: sustentar toda a família do ex-marido, viver numa praia paradisíaca, viajar para Nova Iorque, sem falar numa alpinista que queria casar no Monte Everest.
Já não sabia o que fazer. Afinal, foi procurar uma princesa encantada e só encontrou bruxas no castelo assombrado.
Ficou algum tempo sem frequentar a Internet. Bloqueou o MSN e voltou para a vida boémia com devidos aplausos dos amigos e afins.
Notou que depois da farra os ditos cujos amigos e casados voltavam para seus felizes lares e lá ia o nosso príncipe perdido na solidão da noite.
Dizem que a raposa perde o pêlo mas não perde o vício.
E para acabar com tanta solidão só restou reactivar o cavaleiro andante e toda sua Távola Redonda.
Reabriu todos os canais competentes e voltou à caça.
Tinha que dar certo.
Um dia, deu de caras com uma “Cinderela”.
Paixão à primeira vista. Trocaram mil e-mails, mantinham conversas no MSN, viam-se pela webcam, fora a conta do telefone que crescia dia a dia.
Chegou o grande dia: conhecer a sua princesa encantada.
Roupa nova, perfume, lavagem no carro e lá foi o príncipe para o encontro.
Sentando num café, no centro comercial, aguardava ansioso a rainha do seu coração.
Em dado momento observou que ela estava a chegar. Igualzinha às fotos e às imagens da webcam.
O coração batia forte e o príncipe correu ao seu encontro, esquecendo-se até de pagar o café. Isto para não falar no parque de estacionamento, onde igualmente se tinha esquecido de colocar o talão do parquímetro – é que no regresso (ele não sabia) o carro estaria bloqueado e teria de pagar uma avultada coima!
Enfim….adiante!
Beijos, abraços, trocas de juras amorosas, suspiros e outras frescuras de um primeiro encontro.
Embriagados de tanta paixão logo congeminaram um local idílico: Cama redonda, perfume no ar, música sensual, ambiente embriagado afim de unirem os seus corpos nas emoções do amor.
Eis que a princesa lhe diz: “vou me preparar amor, aguarde”.
O apaixonado agitou-se na cama tenso, tremendo de emoção.
Minutos depois (que pareciam eternidades) porta abriu-se…e …o nosso príncipe caiu estatelado na cama.
A linda princesa era um ET!
……………..

15 abril 2008

Sempre me senti querida e amada pelos meus pais.Cada um a seu modo tratou de transmitir bons principios, confiando, tal como eu, que o futuro seria sempre risonho.
Criança normal, cheguei pela primeira vez à escola primária, com um fatinho amarelo de lã e um gorro da mesma cor na cabela.Hoje penso que devia parecer um pato amarelo. Levava na pasta algumas preciosidades, tais como uma borracha com um cheirinho delicioso - até dava vontade de a trincar!Uma caixa de lápis Viarco e livros novinhos em folha.
Mas o pior eram depois as réguadas, uma grossa régua de madeira e o enorme ponteiro de cana da índia! A escola fazia-me sono, detestava ter de escrever direito e era obrigada a preencher inúmeros cadernos de caligrafia, já que a minha letra eram algo disforme.Já era rebelde por natureza, fingia que estudava e dentro da gaveta da secretária escondia livros aos quadradinhos que tirava à socapa do quiosque da Dona Jesuina. Era uma devoradora compulsiva de tudo o que se me apresentava escrito.
Tsntos livros, desde a Condessa de Ségur até aos célebres livros dos 5, fábulas e estórias de fadas, príncipes e reinos encantados que eu devorava pela noite dentro, sempre acabando a leitura debaixo do lençol e apenas com uma mínuscula pilha eléctrica.
Fui armazenando dentro de mim um imáginário fabuloso, crédula que a realidade seria de facto assim mesmo.
Descobria passagens secretas, trilhos obscuros, e tinha até um local mágico debaixo de uma figueira, a casa secreta das brincadeiras, fizesse chuva ou sol a cantilena soltava-se fácil dos meus lábios : "Está a chover e a fazer sol, é a Ana feiticeira a cavalo na figueira e as bruxas no farol a moer pão mole".
Chegava o tempo de férias, num mar azulinho, e, eu de boia à cintura, na então despoluida praia dos Pescadores ou na praia da Conceição deliciava-me com as construções na areia, e as banhocas, sempre sobre o olhar vigilante dos meus pais. Depois vinha o almocinho, pleno de cheiros deliciosos, quase sempre peixe grelhado acompanhado de belas saladas com um gosto fabuloso que nenhuma das gerações vindouras poderá alguma vez mais sentir.
Lanches , pic-nics, e muito contacto com a natureza, era isto a felicidade!
Infancia passada, adolescência chegada era o tempo de descobrir o porquê de novos mistérios e o sexo masculino intimidava-me.

14 abril 2008

Colo de garça (IV)

Entre tantas memórias de infância que polvilham a minha mente, lembro-me da casa da avó Ermelinda, que ficava no bairro das Colónias, um primeiro andar cheio de tios, tias e primos que entravam e saiam em risadas e agitação constante.
Nos dias festivos cheirava a arroz doce ,canela e filhós que inundavam a mesa, e por baixo da qual costumávamos brincar , lugar quase secreto, rodeado do que para nós era semelhante a um enorme dossel, que nos protegia do olhar inquisidor dos adultos.
Enormes janelas, quase do tamanho do pé direito da casa, tinham cortinas de voile transparente que espelhavam a luz do dia ou a dos candeeiros de iluminação pública. E as cortinas dançavam. E eu dançava enrolada nelas, sob pena de as fazer cair. Parava apenas quando ouvia um solene ralhete - porque os varões dos cortinados poderiam cair - o que me fazia esquecer de imediato que era uma princesa vestida de brancas vestes , com toques de lua ou de sol no meu vestido cor de nuvem.
À noite, afundados nos lençóis brancos e frescos , ouvíamos na sala contígua as conversas dos adultos, que se iam diluindo e tornando longínquas à medida que o sono tomava conta de nós.
A avó Ermelinda era a matriarca da família. Conservo ainda hoje a imagem da sua ternura, e do espirito gregário sempre presente em torno dos seus 12 filhos, já todos falecidos.
Um dia prometi à avó plantar uma árvore, escrever um livro e ter um filho...

11 abril 2008

O silêncio


(patinho transformado em cisne)


De si vem-me o silêncio
que transformo em palavra
nostalgia do eterno começo
letras em constante arremesso

esbarram em muros
de ilusão consciente
em que a palavra é
momento presente

eternos silêncios
águas do tempo
escorridas em letras
jorradas a quente

liberdade inventada
palavra sonhada
viagem em sonho
quase nunca acabada

silêncios que falam
sentidos, magoados
paraísos perdidos
mundos reiventados

através do silêncio
da recusa real
morrem os sentidos
na palavra intemporal

e, neste silêncio
em que aqui me sentiu
recuso a palavra
fica o momento
que nunca implodiu

a poesia não salva
é libertação
caminho certeiro na dor
e na morte
cada verso meu é contradição
canto perdido
estrofe de má sorte

mas fica o silêncio
passível de tudo
esperando ainda
que o som rebente
a palavra oca
e surja perfeito
um tempo presente.

10 abril 2008

Oração à Mãe Terra


ORAÇÃO À MÃE TERRA

“Abençoado seja o Filho da Luz que conhece a sua Mãe Terra
Pois é ela a doadora da vida.
Saibas que a tua Mãe Terra está em ti e tu estás Nela.
Foi Ela quem te gerou e que te deu a vida
E te deu este corpo que um dia tu lhe devolvas.

Saibas que o sangue que corre nas tuas veias
Nasceu do sangue da tua Mãe Terra,
O sangue Dela cai das nuvens, jorra do ventre
Dela Borbulha nos riachos das montanhas
Flui abundantemente nos rios das planícies.

Saibas que o ar que respiras nasce da respiração da tua Mãe Terra,
O alento Dela é o azul celeste das alturas do céu
E os sussurros das folhas da floresta.
Saibas que a dureza dos teus ossos foi criada dos ossos da tua Mãe Terra.

Saibas que a maciez da tua carne nasceu da carne da tua Mãe Terra.
A luz dos teus olhos, o alcance dos teus ouvidos
Nasceram das cores e dos sons da tua Mãe Terra
Que te rodeiam como as ondas do mar rodeiam o peixe.

Como o ar tremelicante sustenta o pássaro
Em verdade te digo, tu és um com a tua Mãe Terra
Ela está em ti e tu estás Nela.
Dela nasceste, Nela vives e para Ela voltarás novamente.

Segue, portanto, as Suas leis
Pois o teu alento é o alento Dela.
O teu sangue o sangue Dela.
Os teus ossos os ossos Dela.
A tua carne a carne Dela.
Os teus olhos e os teus ouvidos são Dela também.

Aquele que encontra a paz na sua Mãe Terra
Não morrerá jamais,
Conhece esta paz na tua mente
Deseja esta paz ao teu coração
Realiza esta paz com o teu corpo.”

Evangelho dos Essénios (http://www.jahmusic.com.br/rascultura/08022006essenios.htm)

08 abril 2008

Os melhores momentos do amor





















"Os melhores momentos do amor são aqueles de uma serena e doce melancolia, em que choras sem saber porquê, e quase aceitas tranquilamente uma desventura que não conheces"
Giacomo Leopardi

(Giacomo Leopardi (29 de junho de 1789 - 14 de junho de 1837) foi um poeta italiano, nascido em Recanati na Itália, é um dos maiores poetas da lírica italiana. A sua obra revela muito péssimismo, melancolia e cepticismo.

07 abril 2008

Colo de Garça (III)

O sorriso tinha tomado conta de mim e de todos os que me rodeavam. Eu era o pronúncio de alegria, casa cheia e simbolo de união, tocando aquelas dois seres que já tanto haviam sofrido.
Agosto decorria quente, mesmo ao entardecer, ao toque das trindades, ouviam-se em contra-ponto as andorinhas, que em despique com o badalar do sino da torre da igreja chilreavam em bandos, fazendo voos rasantes quase junto do meu pequenino berço. E eu segui-as atentamente, adormecendo em seguida.
Já noite instalada, algo de estranho começou a tomar forma no céu.
Um forte cheiro a queimado inundava o ar, estavamos no dia 13 de Agosto de 1959 e
no Rossio, terreno empapado de sangue e sofrimento, em pedras marcadas para sempre pelo terror da Inquisição, os gritos que ainda hoje ecoam, dizem para quem os consegue ouvir, vinham reclamar o eterno descanso sobre a forma de fogo na Igreja de S. Domingos.
E porque o fogo tudo queima, tudo consome, tudo purifica...
Mesmo ali ao lado, a Praça da Figueira, a figueira que já não existia, que Dom Pedro tinha mandado cortar, em momento de ira e de dor pela perda do seu "Colo de garça".
Mesmo ali ao lado, surgiam bandos de populares, em passos apressados com o terror espelhado no rosto e na alma...
Bandos de almas perdidas....

01 abril 2008

Colo de Garça (II)


À beira do Mondego, o Paço de Santa Clara preparava-se para adormecer envolto em luz dourada, saudoso pelo cair da noite, sua eterna companheira do sonho.
Eram aproximadamente 19 horas e quinze minutos de um fim de tarde de Julho, nascia um raio de luz sob forma rosada, destinado a cumprir o seu destino neste planeta azul. Foi em 1959.

Diz-se que as Almas foram criadas como um Fogo Branco que continha os dois Raios Gémeos que se separaram...E não sei bem porquê, continuamente vem aquela estranha sensação de que, dentro de meu coração existe uma poderosa chama, filha do Sol e da Terra, uma chama igualmente forte que, em simultâneo, faz com que a evolução seja conjunta e transmitida às gerações vindouras.


Assim sendo, começou a minha missão e educação na Terra , não sabendo eu os propósitos que me estavam destinados.

Sei que, novas lições e provações me esperavam a partir do momento em que me foi revelado o Caminho. Não se trata de amor apenas pela afinidade das almas ! E sei que o Amor dos que me cercam não irá impedir as consequências das minhas decisões graças ao meu livre arbítrio . Quanto ao que tenho experimentado, certamente que nesta minha busca de Libertação através da iniciação, também poderei deparar-me com a minha alma gémea.
Será que estou pronta , será que é chegado o tempo?
Por vezes, as almas gémeas surgem na nossa vida, não para uma relação amorosa, mas para cumprir uma tarefa estabelecida, para aprenderem algo, após o que seguem a sua vida.

Ultimamente a cada passo da minha iniciação, deparo-me com a inquietação vinda de dentro da alma ! Ás vezes penso nas recomendações que brotam de dentro do meu subconsciente quanto à minha precipitação e insistência em prosseguir com a Iniciação e pouca experiência do mundo material !

(cont.)

Colo de Garça






Pedro e Inês - Coreografia de Olga Roriz


O tempo da despedida era chegado.Uma misteriosa figura estava caída junto a um corpo de mulher, tendo cravadas na carne as garras de um monstro que o dilacera.A saudade, a raiva, o desejo de vingança, eternamente insaciaveis alimentaram durante séculos a génese de um amor caído em desgraça, apelando para um futuro incerto mas intuido em que as almas se reunem no infinito , momento intemporal de felicidade no eterno e almejado paraíso.
Assim Dom Pedro se despede de Inês; e o adeus que lhe diz, é este - ATÉ AO FIM DO MUNDO.
Desde então a história e a lenda convivem entrelaçadas, sem que seja possível colocar limites entre as mesmas. A essência da tragédia é já de si a a maior geradora de dois principios - o Amor e a Morte, as duas coisas mais belas que há no mundo, como disse Leopardi.