28 agosto 2008

Fiel amigo

Em conversa descontraída, troca de palavras e confidências, alguém me chamou a atenção para uma situação rotineira. Contudo, descobri que, apesar da rotina apresentava-se como um factor importante...
Afinal de que estará ela a falar??
Bem ... - estou a falar de algo que quase todos tem em casa!
Descobri, pasmada, que ele é o meu melhor amigo! Fascinada por tal constactação deixo-vos aqui os factos:
Quando chego a casa , lá está ele sempre fiel, esperando-me com o seu ar macio e tentador...
Como é bom deitar-me em cima ....nem reclama com o meu peso, antes pelo contrário, adapta-se ao meu corpo , num formato ergonómico que muito me delicia.
É companheiro amigo nas noites de chuva, atentamente envolve-me quando assisto a um filme e posso chorar no seu ombro, agarrar-me às suas costas, de imediato sinto-me a pessoa mais confortavel e protegida deste mundo ( no outro ainda não experimentei)!
Se rio, se choro, se resmungo, ele deixa-me aninhar nos seus braços, discreto com as conversas que tenho, mesmo ali....em cima dele, nada revelando , tem um poder de discrição enorme.
Poderia ficar aqui momentos esquecidos a falar-vos dele...
Mas...ali está convidativo e tentador a chamar-me- já são horas do aconchego - diz (piscando o olho).
Deixo-vos.... e vou refastelar-me no meu sofá!!!

22 agosto 2008

Que o Amor aconteça em mim.


NE ME QUITTE PAS ( NINA SIMONE ) & Les Amants du Pont-Neuf

Uma luta, uma amizade sofrida que se foi desenvolvendo, do caos para o cosmos, de alguma forma ainda caótico. Não resolvi nem parte, mas também não quero resolver, apenas apreender o que cada canto da vida pode revelar…
3! Três anos de conversão, de rasgos, de transfiguração, de renovação de olhar, de apurar a escuta, de descoberta, de (des) encontros, de partidas e de chegadas a conclusões que apontam para o mistério do tudo e do Todo...
…levando-me a modificar muito do meu pensar…
… e do meu rezar.
Perdi alguma da ingenuidade que fecha, purificando aquela que abre, sentindo-me mais humilde e também mais prudente. Depois de navegar, num primeiro ano, meio sem rumo em busca dos alicerces nos novos conceitos que apareciam, encontro o filão que me caracteriza, nesta entrega que desejo ser mais e em crescendo.
O Amor acontece em mim. Através da sabedoria do Homem – que desde há tempos designo por ser humano no respeito pela inclusividade – chego ao Amor da Sabedoria do Alto.
Nestes anos mergulhada na racionalidade, quase fria, do conhecimento, não me afundei na argumentação que tudo põe em causa e que, supostamente, tudo explica. Basta-me pensar: por mais razão que a fé possa ter, será sempre um mistério… Talvez pelo silêncio do limite que quer ser esquecido, mas que convivido tem mais força que muita capacidade.
De facto, apercebi-me do que sou capaz, por estar envolvida no corpo que conversa através da carne que grita, chama, sente, experimenta, que se dá desde o princípio ao fim dos tempos. Mas também me apercebi da minha fraqueza, que me ajuda a ir mais fundo na minha relação com o outro que surge e me leva a escutá-lo…
… sem rotular nem catalogar, numa imediatez como se tudo tivesse dito e não importasse escutar, até mesmo ver, um outro lado diferente, por ouvidos e olhos que trazem consigo outra narrativa, outra história.
Sinto-me envolvida pela amizade a esta Sabedoria, particular e universal. Sei pouco, talvez cada vez menos, mas saboreio muito e mais. O meu pensamento já não se fixa, quer-se espalhar por todos os cantos em busca do segredo sagrado… O medo dissipa-se, perde-se, diante da denúncia da injustiça e da perversidade, porque fui ganhando uma nova escuta em direcção ao mundo que não está fechado num recanto que se diz detentor da verdade…
… Ah! A verdade… O que é a verdade?, na famosa pergunta que me abre também para a caminhada. Sim, como muitas vezes afirmei, estou a caminho… Neste momento, para mim, a verdade acontece neste percurso que leva à fusão, em que as linguagens que falam do humano, na sua variedade fundidas, apontam, rumo no limite de cada uma, para o infinito…
… do qual somos participantes, porque o Verbo ao se fazer Carne assume a humanidade por Amor. E nesse Amor o ser vivente, no espaço e no tempo, incorpora-se…
Então, mesmo na confusão dos dias que correm por esse mundo fora tento viver sem desespero, escutando a melodia, mais que renovada, ressuscitada da morte geradora de vida, que me permite pensar, coreografar e dançar, encarnando também em mim, todos os grãos – prontos a rebentar no seu fruto – por Ti
Consagrados… Também aqui, neste ensaio final [apenas por uns tempos]…
Mas dói, dói na partilha diária, dar e tão pouco receber, apesar de tudo, Senhor, criaste-me mortal na carne, e a Alma - bem essa custa a amansar (ainda)....mas vou conseguir expurgar o desejo que me faz sofrer. Um dia, vou conseguir! Apenas o Amor sem nada pedir, sem nada exigir, paciente, benigno, á Tua imagem e semelhança, como Maria Madalena, será assim que irei seguir o caminho.

20 agosto 2008

Lisboa - Capital deste país à beira-mar abandonado

Não gosto da minha cidade assim! E não gosto de ver o Rossio sujo, com as fachadas dos prédios degradadas, sem vida interior, prédios pombalinos a ameaçarem ruína, candidatos a abrigarem no seu interior toxicodependentes, vagabundos e parasitas.
A frontaria do Teatro D. Maria sempre ornada de mendigos cobertos de papelão.
Não gosto de passar na Praça da Figueira, onde, em cada mês, se encerra um estabelecimento comercial, onde não existe uma única árvore, para não falar novamente, correndo o risco de me repetir, da maioria dos edifícios estarem vazios..
Não gosto de ver o Largo de S. Domingos, pejado de africanos a trocarem droga, documentos falsos e outras mercadorias ilícitas! A calçada portuguesa está suja, as sarjetas entupidas (quando vierem as chuvas logo se verá). No final de cada dia , sobra uma montureira de lixo oriúndo do acampamento que fazem junto à Ordem dos Advogados e cerca exterior do Palácio da Independência.
Árvores moribundas, pessoas decrépitas, cafés mal amanhados. Vidas tristes e almas ausentes ameaçadas pela precariedade de emprego.
Insegurança a partir das 20:00 horas, sensação de vazio e abandono é esta a radiografia da sala de visitas de Lisboa, capital deste jardim à beira mar abandonado!!!

19 agosto 2008

Sem palavras...

Enquanto passas os teus dias, perdido na revolta do que não disseste, repensando noites de inferno por tudo aquilo que não fizeste, eu vou mordendo as palavras que todos os dias me consomem.
Em cada momento invento e queimo as malditas, diluídas em fel que sorvo devagar..
No fim de cada madrugada, entre véus de agonia imensa, vomito em torrente, memórias entranhadas que me possuem.
Violento-me livremente, sempre que te sinto fugir chamo-te em voz surda, sem que me possas ouvir.
Esta sede intensa que me condena a uma longa noite sem alvorada, sem ver nascer o sol, chegará um dia ao cais.
Finalmente, a paz dormirá no silêncio do vazio, já que não me consigo transformar em grito de liberdade e, poder assim arrancar-te das grilhetas em que vives.
Que a asa do esquecimento nos envolva e possamos , enfim, repousar, sem mais palavras.
"O homem não é feito para a derrota.O homem pode ser destruído, mas não derrotado".
Ernest Hemingway

18 agosto 2008

Luas



Ontem existia uma lua branca, gigante a furar um céu em tons de azul ultramarino .
Por cima do caminho, junto ao bosque, o vento fazia dançar nos galhos despidos, raios de luz em tons de prata . Eram muitos os véus transparentes que me impediam de avançar.
Sacudi as teias de luz que teimosas, ameaçavam colar-se no meu rosto, assim a fazer lembrar algodão doce., para além disso, nada mais se movia.
E eu ali adormecida na curva do caminho, esperando que a lua envelhecesse, tomasse aquele tom amarelado, que hoje aparenta ter – não ser mais uma lua cheia – apenas para que o tempo transformasse o presente e tudo pudesse sentir-se com desprendimento como se fosse mais além, no futuro próximo.
Mas, só quando a lua estiver mesmo em tons de sépia! Até então, tenho a ilusão de que me embriago no infinito, sonhando com uma lua gigantesca , apenas suave , sem feitiço algum. Lua mansa, iluminando o sono inocente das crianças, o beijo terno dos amantes.
Nunca mais a guerra terá a Lua a iluminar a tortura! Cada raio de luz será amarelo em tons de sol que matará o ódio e a ganância dos homens – porque já perderam o direito a uma Lua Cheia com brilho de prata.

10 agosto 2008

Velho Tema



Velho Tema
I
Só a leve esperança em toda a vida
Disfarça a pena de viver, mais nada;
Nem é mais a existência, resumida,
Que uma grande esperança malograda.



O eterno sonho da alma desterrada,
Sonho que a traz ansiosa e embevecida,
É uma hora feliz, sempre adiada
E que não chega nunca em toda a vida.

Essa felicidade que supomos,
Árvore milagrosa que sonhamos
Toda arreada de dourados pomos,


Existe, sim: mas nós não a alcançamos
Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos.
II
Eu cantarei de amor tão fortemente
Com tal celeuma e com tamanhos brados
Que afinal teus ouvidos, dominados,
Hão de à força escutar quanto eu sustente.

Quero que meu amor se te apresente
— Não andrajoso e mendigando agrados,
Mas tal como é: — risonho e sem cuidados,
Muito de altivo, um tanto de insolente.


Nem ele mais a desejar se atreve
Do que merece; eu te amo, e o meu desejo
Apenas cobra um bem que se me deve.


Clamo, e não gemo; avanço, e não rastejo;
E vou de olhos enxutos e alma leve
À galharda conquista do teu beijo.
III
Belas, airosas, pálidas, altivas,
Como tu mesma, outras mulheres vejo:
São rainhas, e segue-as num cortejo
Extensa multidão de almas cativas.


Têm a alvura do mármore; lascivas
Formas; os lábios feitos para o beijo;
E indiferente e desdenhoso as vejo
Belas, airosas, pálidas, altivas...


Por quê? Porque lhes falta a todas elas,
Mesmo às que são mais puras e mais belas,
Um detalhe sutil, um quase nada:


Falta-lhes a paixão que em mim te exalta,
E entre os encantos de que brilham, falta
O vago encanto da mulher amada.
IV
Eu não espero o bem que mais desejo:
Sou condenado, e disso convencido;
Vossas palavras, com que sou punido,
São penas e verdades que sobejo.


O que dizeis é mal muito sabido,
Pois nem se esconde nem procura ensejo,
E anda à vista naquilo que mais vejo:
Em vosso olhar, severo ou distraído.


Tudo quanto afirmais eu mesmo alego:
Ao meu amor desamparado e triste
Toda a esperança de alcançar-vos nego.


Digo-lhe quanto sei, mas ele insiste;
Conto-lhe o mal que vejo, e ele, que é cego,
Põe-se a sonhar o bem que não existe.
V
"Alma serena e casta, que eu persigo
Com o meu sonho de amor e de pecado;
Abençoado seja, abençoado
O rigor que te salva e é meu castigo.


Assim desvies sempre do meu lado
Os teus olhos; nem ouças o que eu digo;
E assim possa morrer, morrer comigo
Esse amor criminoso e condenado.


Sê sempre pura! Eu com denodo enjeito
Uma ventura obtida com teu dano,
Bem meu que de teus males fosse feito".


Assim penso, assim quero, assim me engano
Como se não sentisse que em meu peito
Pulsa o covarde coração humano.


Vicente Augusto de Carvalho nasceu no Brasil em 1866, onde morreu em 1924. Obras principais: RELICÁRIO, 1888; ROSA, ROSA DE AMOR, 1902; POEMAS E CANÇÒES, 1908; VERSO E PROSA, 1909; VERSO DA MOCIDADE, 1912.

09 agosto 2008

A um AMIGO ESPECIAL que tem tudo o que é preciso para ser AMIGO



Procura-se um amigo

Nota: este texto corre meio mundo como sendo de Vinicius. Na sua Obra Completa, a Editora Aguilar, não o regista; muito menos o regista a página oficial, mantida pela família do poeta...

Não precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimentos, basta ter coração.
Precisa saber falar e calar, sobretudo saber ouvir.
Tem que gostar de poesia, de madrugada, de pássaro, de sol, da lua, do canto, dos ventos e das canções da brisa.
Deve ter amor, um grande amor por alguém, ou então sentir falta de não ter esse amor...
Deve amar o próximo e respeitar a dor que os passantes levam consigo. Deve guardar segredo sem se sacrificar.

Não é preciso que seja de primeira mão, nem é imprescindível que seja de segunda mão.
Pode já ter sido enganado, pois todos os amigos são enganados.
Não é preciso que seja puro, nem que seja todo impuro, mas não deve ser vulgar.
Deve ter um ideal e medo de perdê-lo e, no caso de assim não ser, deve sentir o grande vácuo que isso deixa. Tem que ter ressonâncias humanas, seu principal objetivo deve ser o de amigo. Deve sentir pena das pessoa tristes e compreender o imenso vazio dos solitários.
Deve gostar de crianças e lastimar as que não puderam nascer.
Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos, que se comova, quando chamado de amigo.
Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de grandes chuvas e das recordações de infância. Precisa-se de um amigo para não se enlouquecer, para contar o que se viu de belo e triste durante o dia, dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade.
Deve gostar de ruas desertas, de poças de água e de caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim.
Precisa-se de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já se tem um amigo.
Precisa-se de um amigo para se parar de chorar. Para não se viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas.
Que nos bata nos ombros sorrindo ou chorando, mas que nos chame de amigo, para ter-se a consciência de que ainda se vive.