22 abril 2009

As palavras de que não gosto

As palavras que não gosto
Cansam-me e esmorecem-me
Ódio, raiva e vingança
Sentimentos que entristecem
E , fico triste a pensar
Que é bem mais fácil odiar
Do que sentir em si próprio
Capacidade para amar.
Cansa-me o pousio , a rotina
Do egoísmo
A quem trás satisfação?
Incapacidade de dar
De estender a própria mão.
Medo da própria sombra
Que surge avultada e medonha
Sufocando-se em si própria
Como bicho peçonhento
Que nos transforma
Num ser medíocre e cinzento.
Cansa assim tudo na vida
Sem cor, sem verde a agitar
Bandeiras.
Corpos cheios de fragas
Sempre a interpor barreiras
E surgem as palavras
Em pústulas acobardadas
Com grilhetas amordaçadas
No perdão
Na dádiva
No sentir
Rios frescos, clareiras abertas
Onde a alma espera
Renascer intrínseca
E genuína.

11 abril 2009

O Brilho das Estrelas


óleo sobre tela, de Adolphe William BOUGUEREAU (1825 - 1905)

L' ÉTOILE PERDUE

Parece tão simples olhar o céu
Basta erguer a cabeça e vê-lo
Ali, como que pousado
Sobre nós
Mil estrelas que brilham
E já não existem, sequer!
Porque brilham ainda?
Porque as vejo eu,
se já morreram?

Levam-me a duvidar
Se, também eu existo
Nesta espécie de realidade
Que insisto em criar.
Talvez eu seja como as estrelas
Perdendo, a cada dia que passa
O brilho da minha “existência”
E tu,?
Já paraste para pensar?
Será que o teu brilho chega a mim?
Seremos duas estrelas candentes
Apenas existindo no desejo
Formulado,
Por outro alguém que deseja
Existir realmente
Mesmo não sabendo
O que significa
A realidade.
Apenas pensamos
Antes de pensar
E existimos
Depois de sermos
Num caminhar acelerado
Diminuindo á vida
A morte.
Como o brilho das estrelas.

09 abril 2009

O verdadeiro significado da palavra Páscoa.



Há dois mil anos, um homem veio ao mundo disposto a ser o maior exemplo de amor e verdade que a humanidade conheceria.
A Sua proposta de vida não foi entendida por muitos.Condenaram este homem e crucificaram-no ignorando todos os seus propósitos de um mundo melhor.Houve dor, angústia e escuridão.Por três dias o sol se recusou a brilhar, a lua se negou a iluminar a Terra, até que ao terceiro dia a vida aconteceu, possibilitando-nos A certeza do futuro – promessa que não existe em mais nenhum lugar, nenhum governo, nenhuma instituição é capaz de a fazer a não ser Jesus.
João 14:2 e 3 “Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar. E, quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também.”
Jesus disse: Eu vou passar deste mundo, eu estou para morrer, daqui a pouco vai chegar a crucificação, depois a ressurreição, mas eu quero que vocês saibam que eu não vos abandonarei. Por quê? Porque eu vou voltar. Eu garanto-vos o futuro. É isto para mim é força do evangelho de Cristo. Num mundo tão frágil, onde a linguagem dos povos é hoje semelhante, quer seja na Europa no Brasil, no Uruguai, na China, no Japão, na África. A linguagem dos povos é a mesma. Sofrimento, dor, angústia, medo, terrorismo, morte, droga, prostituição, aborto...Esta é a linguagem dos povos. Jesus disse àquela gente que estava trémula: Eu vou preparar um novo mundo! O mundo que será o nosso lar final. Então, sinto em todo o meu coração e recebo no meu espírito, que a primeira coisa que Jesus queria deixar patente aos corações e a todos nós, é a garantia do nosso futuro, enquanto o mundo tem uma linguagem de morte, de sangue, de sofrimento, Jesus disse: Vocês não são daqui! Jesus quis dizer: O importante, agora na minha partida, é que vocês que crêem em mim, constituam uma família. João 15:12 e 17 “O meu mandamento é este: que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei.”Versículo 17: “Isto vos mando: que vos ameis uns aos outros.”A Páscoa existe para nos lembrar deste momento inigualável chamado ressurreição.
Ressurreição do sorriso, da alegria de viver, do amor.
Ressurreição da amizade, da vontade de ser feliz.
Ressurreição dos sonhos, das lembranças.
E de uma verdade que está acima dos ovos de chocolates ou até dos coelhinhos da Páscoa.
Cristo morreu, mas ressuscitou. E fez isso somente para nos ensinar a matar os nossos piores defeitos e ressuscitar as maiores virtudes sepultadas no íntimo dos nossos corações.Que este seja a verdade da minha, da sua, da nossa Páscoa, que possamos encontrar amor, carinho, paz, fraternidade, companheirismo, porque isso sim é o verdadeiro sentido da Páscoa, neste mundo de crise instaurada pelo Homem que abdicou da moral e dos princípios da Fé Cristã.

08 abril 2009

Alexandrino e Altissonância


Óleo de :Julien Dupré, pintor naturalista francês (1851-1910)

Um dia um verso alexandrino,
Em rima emparelhada
Conheceu Dona altissonância
A musa dos seus encantos
Perderam-em em redondilhas
De uma grandeza tal
Que surgiu em verso puro
O nome de Portugal
Despediu-se este dos ultras
Românticos sem solução
Enfabularam um dia
Os destinos da Nação
Alexandrino e Altissonância
Partiram à desfilada
E surgiu airosa e bela
Dona Rima emparelhada
Ataviada de vírgulas
Pontos e reticências
O verso complicou-se
E foi dissecado, então
Pelos ilustres membros
Da academia em questão
Até hoje alexandrino e
Altissonância esperam
A conclusão final
Analisar o destino
Do nome de Portugal.

Sombra


Oléo de El Greco:A Santíssima Trindade (1577–1579)
Museu do Prado, Madrid, Espanha)

Quando Cristo sentiu a sua hora
Enfim era chegada, grave e calmo,
Sereno se acercou dos que o buscavam.
A turba vinha em armas. Mas, de tantos,
Nem um só se atreveu a dar um passo,
Ao por a mão no Filho do Homem. – Todos
De olhos no chão, as armas encobriam
Ante Jesus inerte.
Então aquele
Que o tinha de entregar, aproximando-se,
O tomou nos seus braços, murmurando:
Que Deus te salve, Mestre! E, sobre a face
O beijou, como fora contratado:
Então os mais, chegando-se, o prenderam.
Mas Jesus, sem os ver, lhes perdoava:
De olhos no céu, seguia-os sereno.
Era duro o caminho. Sobre um monte
Iam e, dos dous lados, lá em baixo,
Cobria a treva a terra toda.

Quando
Porém, sobre o mais alto desse monte
Foram enfim chegados, de repente
Viu-se-lhe uma das faces alumiar-se
De uma luz doce e branda, mas imensa!
E quanta terra, desde o monte ao oceano,
Lhe ficava do lado aonde virada
Lhe estava aquela face, reflectindo-a,
Tudo se esclarecia – vale e serra
E a metade do céu – aparecendo
Como em puro luar, ou qual fosse
Vir nascendo uma aurora desse lado.
E essa face radiante era a de Judas
Não chegara a tocar.


Porém a outra,
Que ele beijara, conservou-se escura
Como se o crime dele ali guardasse...
Nem dava luz; e o espaço, dessa banda
Onde a virava, era uma noite imensa,
Coberto o horizonte de nevoeiro...
Partindo o mundo em dois, essa metade
Era a que ficara envolta em sombras.
.........................................................
........................................................
Foi dessas sombras que se fez a Igreja!
( Quental, Antero, 1865 – Odes Modernas, pg. 133)

Redondilhas


Pintura de Michelangelo Merisi da Caravaggio italiano do final do século XVI e início do XVII. Este artista barroco nasceu na cidade de Milão em 29 de setembro de 1571.

Escapa-se-me a memória
Da redondilha, redonda.
Modelo ideal, para te conceber.
Sem lógica, ando
Entre imagens e conceitos
Divagando.
Para encontrar a inspiração
Em tom próprio, muito sério
De redondilha maior.
Neste andamento sem fôlego
Desarticulo em estrofes
Um raciocínio em verso
E sempre tão controverso.
Andando sempre ao redor
De uma poesia romântica.
Um segredo de uni-verso.
Em abstracções tais
Que me são sempre fatais.

05 abril 2009

Solidão



E se um dia ou uma noite um demónio imperceptivelmente se arrastasse até à tua mais isolada solidão e te dissesse: "Esta vida, assim como tu a vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez mais e mais vezes sem conto: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande na tua vida te há-de voltar, e tudo na mesma ordem e sequência, e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez, e tu com ela, ínfimo grão de pó da poeira!". Não te lançarias ao chão rangendo os dentes e amaldiçoando o demónio que assim te falava? Ou viveste alguma vez um portentoso instante, em que lhe responderías: "Tu és um deus e nunca ouvi nada mais divino!" Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te esmagasse: a questão em relação a tudo e todos, sobre se "Queres tu isto uma vez e mais vezes sem conto?" permaneceria com o maior peso sobre as tuas acções! Ou, então, como terias de te sentir bem em relação a ti próprio e à vida para não reclamares mais nada senão esta última eterna confirmação, esta última eterna sanção?
Friedrich Nietzsche

03 abril 2009

O voo da borboleta



Pintor, desenhista e gravador, um dos mais importantes artistas brasileiros do período de transição entre os séculos XIX e XX, Pedro Weingärtner fez sua formação inicialmente em Porto Alegre, com o pintor Delfim da Câmara e depois, na Europa, onde foi aluno de E. Hildebrand, Ferdinand Keller e Theodor Poech, na Alemanha e, de Robert-Fleury e Adolphe Bouguereau, na França. Após um período de estudos na Europa, como bolsista do Imperador Pedro II, estabeleceu-se, finalmente, na Itália, de onde retornaria só muito próximo do final da sua vida. Texto de Paulo César Ribeiro Gomes-Professor Assistente no Curso de Design junto ao Centro Universitário Ritter dos Reis. Mestre em Arte Visuais - Poéticas Visuais (1998) e Doutor em Artes Visuais - Poéticas Visuais (2003), ambas pela UFRGS

Apanho-te em cada rasto
Da negação do ser.
De não seres
O que pensas.
Não quereres
de tão transparente
que julgas ser
um quase polén
em qualquer flor
À beira do caminho
quase borboleta
num voo sempre sozinho.
Mas estás lá,
manchando o azul do céu
com as cores do arco-íris.
Mesmo não sendo
Existes.
ser animal, meio-humano
enquanto eu,
por negação
sou o oposto
quase, quase meia-humana
opaca, densa
tentando o voo
da primavera
e despenhando-me
numa cidade de sonhos
que não existe.
É só mais uma quimera.