02 janeiro 2014

Ano Novo, VIDA NOVA




Não sou gato, não tenho vida de gato selvagem, doméstico nem as ditas sete vidas.
Também não tenho vida de cão, dos de luxo e se assim fosse, mal comparada, seria um daqueles que deabulam e a quem atiram um ossito para roer- vai-te contentando malfadado ainda tens muita sorte em estares vivo - diriam, talvez.
Daí que levo a vida a pelejar contra moinhos de vento sem ser D.Quixote de La Mancha.
Eu gostava mesmo era de ser ave, dessas do paraíso para poder encantar.
Ando espantada da vida e esta não me quer brindar com dias de sol para me aquecerem a alma.
Agostinho da Silva às páginas tantas escreve "que sofrer é um direito de primogenitura e não o podemos trocar por nenhum prato de lentilhas". Mais dizia nas suas Sete Cartas a Um Jovem Filósofo "que a dor só é fecunda quando a amamos, quando a vemos como indispensável à escultura que se está fazendo na nossa alma", parece-me que o estou a ouvir naquela sua voz tão familiar.
Ora assim sendo quer-me parecer que estou a ficar anquilosada e cheia de artroses, a minha alma está , mal comparada, a enormes pedaços de estalactites e estalagmites. Pois então. De tanto amar. Que mau serviço ando prestando a mim mesma; escultura inestética e sem beleza esta.
Se assim penso e assim sinto, e se só se existe quando se sente, está então na altura de trabalhar o caminho, e pelo muito que já me doem estas calcificações deverei fazer algo de forma a contribuir para a leveza sustentável deste ser.
Devorei alguma literatura esperando encontrar nela acalmia para o meu caso clinico. Trata-se verdadeiramente de uma patologia da alma e que deu azo, muitas vezes,a situações em que a comédia e a tragédia se cruzassem no meu percurso.
Declaro que persegui fantasmas transfomando-me eu própria num; sempre a espreitar pelas vielas e esquinas, a olhar de soslaio e como se fora eu um caçador furtivo à procura da presa invisível.
Tal busca redundou em nada porque a presa apenas existia no meu pensamento: inventei por inteiro o objecto amado; não desejo ser uma réplica de Sóror Mariana e resvalar na couraça da indiferença de um qualquer idiota que não merece mais do que o mesmo tratamento - o mesmo com que me trata.
Quero agora reformular o modelo e entreter-me pacificamente a gastar a única vida que Deus me deu. De uma vez por todas deixar de erguer altares a ídolos com pés de barro.No coração um fogo silencioso  crepita calmo e sem arroubos, estes ùltimos que futuramentenão permitirei.
Devagar, atenta expulsarei de mim o demónio que tu és.