Stella Bianco - “Menina de vestido rosa” - Óleo sobre tela.
A poesia não têm coerência
É impaciente.
È uma espécie de fogo fátuo
Que aparece à gente.
A poesia é filha da revolta
Tendo por madrasta a mágoa
Não se lhe conhece o pai
Criatura detestável.
A poesia despreza
Tudo o que não é belo
E consegue por si só
Fazer da maldição
O prelo
Plano liso, mármore
Onde se coloca a composição
Que a poesia dá à luz
Fruto da solidão.
Mas não queiram ser poetas
Esses seres tão singulares
Heróis de quimeras perdidas
Em busca dos sete mares
Das mais estranhas alegorias.
A poesia têm um preço
Mil anos de solidão
E sempre a alma a pairar
Pelo vazio dos dias
E pela negra escuridão
E dói, sabiam?
É como espinho cravado
Sem o poder arrancar
E a poesia é de quem
Sempre soube o que era Amar.
Tu que foges das emoções,
Dos sentimentos mais nobres
Que jogas nas palavras
As acções já de si pobres
Não ouses pensar sequer
Que vais a algum lado
O futuro te condena
A seres alguém sem passado.
E porque um povo,
Uma casa, uma pessoa
Que não saiba respeitar
E enterrar o passado
Nunca terá futuro
E viverá amargurado.
Deixa a poesia voar
Entrar livre pela janela
Faz da poesia o teu sol
Pinta a vida da cor dela.
Sorri, mesmo que chores
E que a tua alma seja
Um pedaço de cristal
Partido em mil pedaços
Abraça a poesia e diz-lhe
És a musa dos meus espaços.
* "Quando o real é incapaz de valer como tal, torna-se necessário desdobrá-lo num segundo sentido, para impedir a sua dispersão". escreveu Starobinski a propósito de Baudelaire