27 fevereiro 2009

Nascentes


















Ontem quando me disseste,
Que beijar as nascentes dos meus lábios
Te fazia lembrar cascatas de água,
Acordaste em mim ecos adormecidos
Em dia de primavera.
O raio atravessou o firmamento
E fez eclodir as águas
Abrindo fendas nas fragas
Selvagens, na paisagem do norte
Penedos graníticos quebraram-se
Docemente,
E do seu interior
Brotaram as águas cristalinas
Este seiva que alimenta
E nos chama novamente á vida
A céu aberto, correm agora
Riachos de cristal,
Em melodias tranquilas
Risos da natureza
Que só nós dois conhecemos
Deitados na terra, confidenciamos
Mil segredos
Guardados na eternidade
E finalmente descobrimos
Que nunca estivemos sós
Unidos em tempo intemporal
Em minutos que nunca existiram
Rasgamos o tempo e o espaço.

25 fevereiro 2009

carpe diem

“- devemos olhar constantemente as coisas de uma maneira diferente.(...)
Quando pensarem que sabem alguma coisa, olhem-na novamente, mas de maneira diferente. Mesmo que vos pareça disparate ou errado, não deixem de tentar. Não tenham em mente só o que os outros pensam, pensem também no que vocês próprios pensam. Esforcem-se para achar a vossa voz. Quanto mais esperarem para começar, menos possibilidades têm de a encontrar.
Thoreau disse: “ A maioria dos homens vive uma vida de silencioso desespero”. Não se resignem a isso; libertem-se! (...) Ousem avançar e encontrar novos pontos de vista!
WalT Whitman escreveu este poema:
Apanha os botões de rosa enquanto podes
O tempo voa
E esta flor que hoje sorri
Amanhã estará moribunda.

E, já agora um diálogo extraído do filme O clube dos Poetas Mortos....
Quero revelar-vos um segredo. Aproximem-se. Não lemos e escrevemos poesia só porque é giro; lemos e escrevemos poesia porque fazemos parte da raça humana. E a raça humana está impregnada de paixão.
Medicina, direito, gestão, engenharia são nobres actividades necessárias à vida. Mas a poesia, a beleza, o romance, o amor são as coisas que nos fazem viver.

21 fevereiro 2009

"O homem é um ser social. Quem consegue viver em solidão , ou é Deus ou uma besta " - Aristóteles
Como é possível que ela tenha morrido e não lhe tenham dito nada?
Anda por aí a pensar que é gente, incomoda tudo e todos. Já não devia estar cá. Não faz parte deste mundo.
Afinal, quem é que tem coragem de lhe dizer isso?
-Tu!
-Eu? Mas eu ainda não morri como posso comunicar com ela?
-Afinal como sabes que ainda não morreste? Nem eu sei também!Será que alguém nos disse e não ouvimos?

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20 fevereiro 2009

Luxúria


Foto: João Mota Costa

Desliza leve o vento como pena de ave, que voa pela montanha suavemente ondulada.
Acaricia lento.
Escorre doce a água do ribeiro, sem pressas, inundando a terra sequiosa, aberta em sulcos que enchem mil lagos, jorrando sempre em direcção ao vale profundo.
Abandona-se inconsciente e o mundo pára por breves segundos.
Não sabe qual o norte nem o sul, perde-se no estuário do imenso oceano de sal. Ao fundo, arde ainda intenso o astro rei que vai lentamente caindo a pique. Finalmente vem o repouso da noite e a terra adormece saciada, abraçada ao vento parado.


Já é tão tarde, uma espécie de tarde arrastada que entra na noite. Imagino-te, devagarinho, a chegar, como quem nem sequer partiu. O teu sorriso nos lábios finos e malandros, esconde um vulcão que me faz lembrar o ataque da serpente; sei que pensas que sou eu a serpente, mas não - fica tranquilo e invade-me assim docemente, como se o pudesses fazer com a mesma liberdade com que o teu perfume se entranha em mim e deixa marcas no corpo e na minha almofada. Já faz uma semana que não troco a fronha só para te sentir assim bem perto das minhas narinas, insufladas de uma corrente de ar que me agita os sentidos, despertando-me para a essência daquilo que verdadeiramente nem sequer acontece.
Maldito desejo este, que carrego em forma de verbo, com espaços entre palavras, como se a pontuação fosse um arfar antes da subida ao cume mais alto
Tão tarde e o solilóquio instalado ainda ali no braço do sofá. O maldito não se vai embora, eu a querer ficar a sós com as palavras e fazer delas um poema. Acontece que já é tarde, e, afinal sempre acontece alguma coisa, sem que eu saiba qual o sabor desse fruto amadurecido depois de ter acontecido na tarde arrastada da noite. Fica apenas o teu aroma na almofada.

19 fevereiro 2009

Morte e Vida

Aprofundando a morte
Sei que sou e nasci
Para ela, a Morte.
Por ter nascido una
Fundi-me no todo
E perdi-me na vida
Morrendo a cada
Instante.
A vida não se resume
A um acidente empírico
Que a ciência dos Homens
Possa utilizar
Estranha dicotomia esta
Entre o Tempo biológico
E o físico.
No Tempo que decorre
Entre formas diferentes
Do acto de me negar.



O mar calmo, veste-se agora de negro
Sem aquele clarão lustrado do sol
Poente
A noite chegou viúva, debruçada sobre a praia
Vem chorando em silêncio
O tempo que gastou a murmurar
Palavras
Que julgou ouvir nos teus lábios
Areias molhadas de sal
Mortalhas de corpos perdidos
No imenso naufrágio da vida
Despenharam-se em ravinas
Surdas, abertas como bocas
Sequiosas
E no ar apenas o perfume das rosas
Que coloriram um pouco
O areal.

18 fevereiro 2009

Para meditar

Cada qual medite à sua maneira.
Eduardo Prado Coelho, antes de falecer (25/08/2007), teve a lucidez de nos deixar esta reflexão, sobre nós todos, por isso façam uma leitura atenta. Precisa-se de matéria prima para construir um País *Eduardo Prado Coelho - in Público* A crença geral anterior era de que Santana Lopes não servia, bem como Cavaco, Durão e Guterres. Agora dizemos que Sócrates não serve. E o que vier depois de Sócrates também não servirá para nada. Por isso começo a suspeitar que o problema não está no trapalhão que foi Santana Lopes ou na farsa que é o Sócrates. O problema está em nós. Nós como povo. Nós como matéria prima de um país. Porque pertenço a um país onde a ESPERTEZA é a moeda sempre valorizada, tanto ou mais do que o euro. Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma virtude mais apreciada do que formar uma família baseada em valores e respeito aos demais. Pertenço a um país onde, lamentavelmente, os jornais jamais poderão ser vendidos como em outros países, isto é, pondo umas caixas nos passeios onde se paga por um só jornal E SE TIRA UM SÓ JORNAL, DEIXANDO-SE OS DEMAIS ONDE ESTÃO. Pertenço ao país onde as EMPRESAS PRIVADAS são fornecedoras particulares dos seus empregados pouco honestos, que levam para casa, como se fosse correcto, folhas de papel, lápis, canetas, lips e tudo o que possa ser útil para os trabalhos de escola dos filhos ....e para eles mesmos. Pertenço a um país onde as pessoas se sentem espertas porque conseguiram comprar um descodificador falso da TV Cabo, onde se frauda a declaração de IRS para não pagar ou pagar menos impostos. Pertenço a um país: - Onde a falta de pontualidade é um hábito; - Onde os directores das empresas não valorizam o capital humano. - Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram lixo nas ruas e, depois, reclamam do governo por não limpar os esgotos. - Onde pessoas se queixam que a luz e a água são serviços caros. - Onde não existe a cultura pela leitura (onde os nossos jovens dizem que é 'muito chato ter que ler') e não há consciência nem memória política, histórica nem económica. - Onde os nossos políticos trabalham dois dias por semana para aprovar projectos e leis que só servem para caçar os pobres, arreliar a classe média e beneficiar alguns. Pertenço a um país onde as cartas de condução e as declarações médicas podem ser 'compradas', sem se fazer qualquer exame. - Um país onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma criança nos braços, ou um inválido, fica em pé no autocarro, enquanto a pessoa que está sentada finge que dorme para não lhe dar o lugar. - Um país no qual a prioridade de passagem é para o carro e não para o peão. - Um país onde fazemos muitas coisas erradas, mas estamos sempre a criticar os nossos governantes. Quanto mais analiso os defeitos de Santana Lopes e de Sócrates, melhor me sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem corrompi um guarda de trânsito para não ser multado. Quanto mais digo o quanto o Cavaco é culpado, melhor sou eu como português, apesar de que ainda hoje pela manhã explorei um cliente que confiava em mim, o que me ajudou a pagar algumas dívidas. Não. Não. Não. Já basta. Como 'matéria prima' de um país, temos muitas coisas boas, mas falta muito para sermos os homens e as mulheres que o nosso país precisa. Esses defeitos, essa 'CHICO-ESPERTERTICE PORTUGUESA' congénita, essa desonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui até se converter em casos escandalosos na política, essa falta de qualidade humana, mais do que Santana, Guterres, Cavaco ou Sócrates, é que é real e honestamente má, porque todos eles são portugueses como nós, ELEITOS POR NÓS. Nascidos aqui, não noutra parte... Fico triste. Porque, ainda que Sócrates se fosse embora hoje, o próximo que o suceder terá que continuar a trabalhar com a mesma matéria prima defeituosa que, como povo, somos nós mesmos. E não poderá fazer nada... Não tenho nenhuma garantia de que alguém possa fazer melhor, mas enquanto alguém não sinalizar um caminho destinado a erradicar primeiro os vícios que temos como povo, ninguém servirá. Nem serviu Santana, nem serviu Guterres, não serviu Cavaco, nem serve Sócrates e nem servirá o que vier. Qual é a alternativa? Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei com a força e por meio do terror? Aqui faz falta outra coisa. E enquanto essa 'outra coisa' não comece a surgir de baixo para cima, ou de cima para baixo, ou do centro para os lados, ou como queiram, seguiremos igualmente condenados, igualmente estancados....igualmente abusados! É muito bom ser português. Mas quando essa portugalidade autóctone começa a ser um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento como Nação, então tudo muda... Não esperemos acender uma vela a todos os santos, a ver se nos mandam um messias. Nós temos que mudar. Um novo governante com os mesmos portugueses nada Poderá fazer. Está muito claro... Somos nós que temos que mudar. Sim, creio que isto encaixa muito bem em tudo o que anda a acontecer-nos: Desculpamos a mediocridade de programas de televisão nefastos e, francamente, somos tolerantes com o fracasso. É a indústria da desculpa e da estupidez. Agora, depois desta mensagem, francamente, decidi procurar o responsável, não para o castigar, mas para lhe exigir (sim, exigir) que melhore o seu comportamento e que não se faça de mouco, de desentendido. Sim, decidi procurar o responsável e ESTOU SEGURO DE QUE O ENCONTRAREI QUANDO ME OLHAR NO ESPELHO. AÍ ESTÁ. NÃO PRECISO PROCURÁ-LO NOUTRO LADO. E você, o que pensa?.... *MEDITE*!*EDUARDO PRADO COELHO*

Bibliopleonástica

Há um livro...
Há um livro onde...
Já viu o livro ...?
leu o livro onde...?

Ora, não há livro nenhum...
Não há nada que esteja nos livros...
Ninguém lê nada em livros mas dentro de si
Excepto os críticos que lêem o que lá não está, ou se vê , ou se se lê.
...Ou nada se entende,
Ou é percebido
Porque já tinhamos sentido a coisa
Existente ou não
Fora ou dentro de nós.

José Blanc de Portugal


Já não tenho direito a pensar
Porque já não sinto sequer
Fico apenas a cismar
Com as noites de luar
Quem as fez?
E para quem?
Se aos amantes são vedadas
Adormecidos que são
Em suspiros conformados
Saudades amarguradas
Olhos cegos e doridos
De tanto olhar o caminho

Feito de tantos nadas.

O Passageiro

O meu olhar há muito que tinha recaído nele. Recaiu e resolveu poisar demoradamente.
Cabelos grisalhos, meia-idade com encanto, vestuário elegante em tons de terra-cota, a dar com a pasta de pele que acompanhava um saco de uma marca bem conhecida.
Tamborilava os dedos no rebordo da janela, pensativo e ausente dali, quase pela certa com o pensamento em outras paragens.
Entretanto o combóio parado havia já alguns segundos, tinha deixado sair todos os passageiros com destino àquela estação e o movimento de vai e vem dentro da carruagem cessara.
Eis senão quando, num repentino movimento o homem levantou-se abruptamente e saiu a voar porta fora! Quase que se ia esquecendo do corpo dentro da carruagem.
Sorri interiormente, pensando como é que há gente que se consegue esquecer assim de si própria??
Não admira que na secção dos Perdidos e Achados da CP existam tantos objectos não reclamados.

17 fevereiro 2009

Sobre o lado esquerdo

De vez em quando a insónia vibra com a nitidez dos sinos, dos cristais. E então, das duas uma: partem-se ou não se partem as cordas tensas da sua harpa insuportável.
No segundo caso, o homem que não dorme pensa: " o melhor é voltar-me para o lado esquerdo e assim, deslocando todo o peso do sangue sobre a metade mais gasta do meu corpo, esmagar o coração.

Carlos de Oliveira

Contado do fim para o princípio não se entendia mesmo nada. Tinha acorrido um bando de forças policiais, cercaram o local da ocorrência com fitas amarelas, afastaram todo e qualquer mirone, inclusivé os jornalistas - esses são os piores - e conferenciavam em conjunto. Visto à distância lembravam um rebanho a olhar uma qualquer espécie vegetal , incomum e apetitosa.

Todos à vez, levataram a ponta do lençol, espreitando para debaixo do pedaço de 80% de acrílico e 20% de algodão.

Quem seria ela e, quais as causas da morte?

Colocaram-lhe a respectiva etiqueta no pé com um grosseiro atilho de cordão, daqueles que se usam nas mercearias do chamado comércio tradicional.

Quem sabe se outrora teria tido outro tipo de adornos?

Jazia ali um belo corpo marmóreo, de proporções esculturais, diria que esculpido por mestre divino.

Algures, fora deste restricto espaço, os movimentos da imensa mole humana continuavam iguais e rotineiros. Tudo uma questão de equação matemática; mas neste caso faltava encontrar o valor da incógnita! É que se fosse sómente uma fòrmula, mesmo contada do fim para o principio entender-se-ia toda.

O problema reside em que somos mais que equações e fórmulas matemáticas; e os mistérios adensam-se consoante a natureza humana: ou seja na inversa proporção do principio para o fim...

16 fevereiro 2009

Rotinas


Ela esgotou-se nele. De tanto se dar, de tanto o amar, deixou de saber quem era; deixou de saber amar.

Um dia olhou-se no espelho e não estava lá.

Anos mais tarde alguém quebrou o espelho, libertando a imagem prisioneira.Dizem ainda hoje, que são 7 anos de azar.

Espero que sejas tu a quebrá-lo e por cada fragmento partido onde te vislumbres, consigas ver, não a ti mas pedaços soltos de alma que vagueim por aí peregrina e pulverizada em mil pedaços de vidro reluzente, sempre que o sol os faz brilhar.

Terás talvez, então, o calor suficiente para acenderes uma fogueira no teu coração e entenderás finalmente, a forma como fui consumida por te ter amado assim.

Tango

Se por acaso nos amarmos esta noite,
amanhã há-de ser como se nada tivesse acontecido.
Mas, se nos amarmos esta noite,
será com raiva e desespero de amanhã ser como se nada
tivesse acontecido.

Amei-te ao nascer das luzes sobre o asfalto molhado,
ou amei-te anos sem fim?
Lembro-me de ti não sei donde, talvez
dos sonhos de todos os homens que antes de mim
sonharam
o amor como uma nova eternidade.

Adolfo Casais Monteiro

Grades subterrâneas


"Dois homens olharam através das grades da prisão;um viu a lama, o outro as estrelas."
Santo Agostinho.
Eu é que ainda não sei o que vejo! Se é que vejo alguma coisa...talvez olhe apenas, sem ver!



Olhas-me com olhos doces
Contornando as palavras,
Como se não fosses
Um lobo
Vestindo a pele de cordeiro
Que me atrai com ar matreiro.
Mereces o sofrimento
Por aprisionares a liberdade
De poderes ser o que não és
De me fazeres ser o que não sou
A raiva, essa secou, como secam
As ervas daninhas que piso
Na beira do meu caminhar
Mesmo morrendo aos poucos
Amordaçada na forma
A que me obrigas a ser
Sou mais livre de escolher
Onde e quando vou morrer.