30 setembro 2012

Seda....




(Foto retirada da net - desconheço a autoria)

O teu amor era de seda e foi escorregando nos meus ombros
Esboroada urdidura, trama tecida com afinco
Algures num tear longínquo .
O teu amor era de seda pura, sem mistura
A respeitar a etiqueta que no avesso trazia
Mesmo assim ficou puído, descendo devagarinho
Deixou-me despida e nua
O teu amor era feito de asas de borboleta,
Casulos da cor do sol, até podiam ser sóis
Levados pela corrente numa amálgama empapada
E o toque da seda em mim, uma carícia aprisionada
Escorregou dos meus ombros  esvoaçou leve
e aterrou feito restolho numa poça de água na estrada.

25 setembro 2012

Obsessão



 

Gostava de ser livre para poder dizer que sou livre!
Mas nasci aprisionada no grito onde sobrevivo
Quando o tempo bate no mecanismo inventado
Eu não me oiço
Quando o silêncio se instala dentro de mim
Existem vozes que me falam
E eu não me entendo
Porque não sou livre, deixei-me aprisionar
Pela verdade que creio ser minha
E não tenho nada de mais a não ser
Esta estranha obsessão de continuar a gritar
Para que alguém me ouça
E me diga que eu existo!

Maria João Nunes

21 setembro 2012

 

Esta estranha energia metafísica que me assola
Que me invade como se fora ondas de um oceano profundo
Como se fora asas que galgando me devoram e me afastam do  mundo
Estranho voo nupcial em que as palavras vivem como se cópula fosse
E me deixam encantada neste reino animal, onde a conquista se impõe
Diária e sem nenhuma trégua neste abismo colossal onde lutam forças
Quase sobrenaturais a que chamam de  Bem e Mal.
Sempre este duplo sentido de uma origem desconhecida
Sempre esta vaga incerteza  com que se constrói a Vida.
E este mistério da origem surge como coisa encantada
Esta estranha esperança de sedução de paraíso logo se abate
Como se fora nuvem carregada de granizo.
Fenómeno de perdição que  em água se dilui, tal como o meu corpo
Assim fica, quando minha alma flui e galgando pelo espaço
Me deixa inerte e vazia como se calasse algures o som
e o coração cesse por fim o  seu compasso

11 setembro 2012

Âncoras




São todas  as palavras do mundo
Âncoras que nos seguram à vida.
Para lá do tempo não existem as palavras
E não existe mundo sem tempo
E no tempo construo embarcações
Onde guardo todas as palavras do mundo.
Ardem as palavras quando presas  dentro de nós
E forjam-se umas tantas, outras não
Revoltam-se e reviram-se e soltam-se
Vão com a maré , afundam-se
Afundam-nos.
Difundem-nos.
São as palavras do mundo
Âncoras que nos suportam
Navegando contra o silêncio,
E esta corrente que fica, este tingir
De marca d’agua com  palavras,  
âncoras que seguram o pensamento
E não o deixa naufragar.

Maria João Nunes

08 setembro 2012

Tanta coisa por dizer

Lua azul
Foto: ©Maria João Nunes



Porque me invade a melancolia
Sempre que chega a noite e cai o dia?
Porquê à tardinha, naquela hora
Sempre morna, espero eu sem sentido
E voa o meu pensamento
Como se fora um foragido.
Para onde corre o  coração?
Como se fora rio ou mar
Nestas paragens de ilusão
Onde te recriei sonhando
Que  realidade era aquela
Que tantas  saudades deixa
Tantas cartas por escrever
Tantas palavras caladas
Tanta coisa por dizer.
Neste anseio a divagar
Perde-se de mim o olhar
Foge-me a alma do corpo
É tudo água a transbordar

Maria João Nunes


 




06 setembro 2012

Meditando...


A Esperança nada mais é do que uma lenta agonia até ao estertor da Morte!
Enganamo-nos assim, pensando que tudo nos será possível quando, apenas, na Vida de que nascemos e que ilusoriamente dizemos que nos foi concedida,  nos resta  uma  única Verdade: a Morte; como se fora um imenso firmamento sempre presente no acaso dos nossos dias – a que  chamamos de “O Caminho”.
De que serve querer o amanhã se , cada vez mais,  esse momento nos nega a possibilidade da concretização  dos anseios?
Maria João Nunes

04 setembro 2012

As Sombras que perseguimos...Parte II


Foto: Maria João Nunes©




Gaivotas são espuma branca, pedaços de um sentir

Parte de um mar tamanho que se cansou de bramir
E  por cima  da espuma  branca há um  manto azul celeste
Tanta mansidão no  olhar tanta paz, tanto mar.
É noite de lua cheia, noite de tantos desejos
que nos fazem desejar, 
E tanta água,   feita de luzidia prata, tanto  brilho acetinado
Polvilhado de gaivotas como se fora um bordado.
Ao longe, na escura costa distante, brilha o farol em cor de ouro desenhado
A iluminar as rotas do pescador e do peregrino
E eu  navegando no meu sonho, por cima da espuma branca
Seguindo os astros  no céu, olhando a lua a crescer
Iluminando as gaivotas neste  lento  entardecer.
E o luar furtivo avança, como se fora alma da noite
Trazendo consigo  a sombra que há tanto me persegue
Ou persigo-a eu a ela, num jogo de cabra-cega
Como se fora sol e lua que nunca se encontrarão
Ambos sem rota marcada, sem praia para aportar
Apenas a espuma branca, gaivota ou onda do mar
A cruzarem oceanos
E a minha alma peregrina  a querer também voar.
Maria João Nunes ( Inédito)