20 fevereiro 2009



Já é tão tarde, uma espécie de tarde arrastada que entra na noite. Imagino-te, devagarinho, a chegar, como quem nem sequer partiu. O teu sorriso nos lábios finos e malandros, esconde um vulcão que me faz lembrar o ataque da serpente; sei que pensas que sou eu a serpente, mas não - fica tranquilo e invade-me assim docemente, como se o pudesses fazer com a mesma liberdade com que o teu perfume se entranha em mim e deixa marcas no corpo e na minha almofada. Já faz uma semana que não troco a fronha só para te sentir assim bem perto das minhas narinas, insufladas de uma corrente de ar que me agita os sentidos, despertando-me para a essência daquilo que verdadeiramente nem sequer acontece.
Maldito desejo este, que carrego em forma de verbo, com espaços entre palavras, como se a pontuação fosse um arfar antes da subida ao cume mais alto
Tão tarde e o solilóquio instalado ainda ali no braço do sofá. O maldito não se vai embora, eu a querer ficar a sós com as palavras e fazer delas um poema. Acontece que já é tarde, e, afinal sempre acontece alguma coisa, sem que eu saiba qual o sabor desse fruto amadurecido depois de ter acontecido na tarde arrastada da noite. Fica apenas o teu aroma na almofada.

1 comentário:

**Viver a Alma** disse...

Pois...
Abraço meu
Sempre..
~Mariz