Por entre salpicos de música, cornucópias que se enovelam-se no ar, o meu pensamento voa em notas de mil tons para junto do teu silêncio.
Apesar da distância que tende a espessar o poder da palavra, imagino que toco o teu rosto adormecido, seguindo um pequeno raio de luz que brinca com os reflexos da tua pele, ligeiramente sombreada pela barba que cresceu durante a noite.
Tenho em mim a promessa de risos e de um cordão de esperança construído no principio de tudo, uma relação plena de limpidez e confiança, barricando-me contra o sofrimento que conhecem fatalmente todos os amantes, esse estilete de fogo que dilacera quando menos se espera, deixando o corpo a flutuar em busca da mente e da razão.
Poder dizer que não tenho medo do depois, do provir, mas sinto no horizonte uma nuvem que tende a invadir os sonhos mais puros.
Na quietude da tarde que avança, sentada ouvindo a meditação de Thais, sinto-te, como se os teus dedos percorressem todo o meu corpo, acordando em mim a lãnguidez da tua essência, abandono-me contruindo cenários de cidades marmoreadas, debruçadas sobre a linha azul do mediterrâneo, como se o teu corpo e o meu tivessem algo de mítico a espreitar por entre frisos e colunatas onde as andorinhas esvoaçam chilreando a voz da nossa paixão.
Sentir-me-ia quase feliz, não fosse a voragem do tempo que tudo consome, deixando em mim apenas a memória da tua voz, ecos que marcam eternamente , que um dia exististe em mim.