20 junho 2008

Lamento



Engulo este meu lamento,
Oculto o meu choro
A esconder o sentimento
Em que me condeno e morro
Um pouco a cada momento,

Bebo a morte, no cálice da vida
Eternamente imobilizada a seus pés
Espero a hora de dizer adeus
Na lápide da despedida

Finjo não ter nada a dizer
Agonizo, mantendo-me muda e fria
Antes que seja obrigada a ver
a clara verdade como dia

Imploro ao tempo o desfazer
do erro que tem sido minha agonia
interrogo os anjos que me estão a olhar
Porque me fadaram nesta ironia

Não posso ficar presa ao passado
Mas difícil tem sido calar a memória
Quisera eu esquecer o dia amaldiçoado
Em que o marquei para a minha história

Continuando um caminhar magoado
Já que me puseste o selo do impossível
Não olhes para trás, não me venhas cantar
Após o meu corpo ir a sepultar

Já que odeio despedidas,
Não me pretendo alongar
Não costumo chorar as palavras perdidas
Vou, aos poucos, deixando o canto cessar

Calem-se as falas esquecidas
E os suspiros que o vento quiser levar
Se essa memória insistir em permanecer
Comigo há de envelhecer até ao momento de morrer

Ferida que nunca cicatriza
Não me liberta, não me dá sossego
Que tipo de criatura se inferniza
Com um amor que nunca lhe deu aconchego?

Apenas a dor a cada dia o eterniza
e, assim quanto mais perto da morte, eu chego
Pior o vazio da vida que nem o silêncio suaviza

Horas de queimar memórias
Já não preciso para lembrar de ti
Liberto a paixão que já senti
De tantos sonhos quebrados,
Ergui minhas asas e renasci
Manterei a minha boca fechada
Para que a alma fique sossegada

Que seja, adeus!
Ah, que falta me fará
O brilho destes olhos teus!
Em minha alma sempre estarás
Ver-te-ei de novo, em sonhos meus

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