Não posso adiar a palavra
Sob pena
De a pena não correr
E o punho desfalecer.
Trago a dor presa na mão
Esta dor tão portuguesa
Este sentir a saudade
Que sufoca no meu peito
Anseia por liberdade.
E no bico da caneta
Como fino estilete
São rios de tinta preta
A manchar o meu corpete
Que me aperta
Que me oprime
escondido no peito
Este inútil prisioneiro
De crime será suspeito
De me fazer adiar
O sentido das palavras
Sem predicado
Nem verbo
E sem um único sujeito.
2 comentários:
Esta imagem da dor presa na mão e que escorre pelo bico da caneta...eu diria que é a imagem que nos dão os seus escritos.
Com um pequeno senão. Eu "vejo-a" mais a teclar que a escrever com caneta.
Mas isto já sou eu a ser realista demais e a brincar com o assunto, que não com os seus sentimentos.
Alegre triste meigo feroz bêbedo lúcido
no meio do mar
Claro obscuro novo velhíssimo obsceno puro
no meio do mar
Nado-morto às quatro
morto a nado às cinco
encontrado perdido
no meio do mar
no meio do mar
(Mário Cesariny)
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