12 fevereiro 2008

Um poema perfeito




Poema perfeito é
Aquele que faz sentir
A neve fria a derreter
Sob o sol da manhã.
Que faz sonhar com
O céu estrelado
E a noite de luar
Sobre a estrada.
É quando consegues ver
Em cada palavra
O nascer do novo ser
Que grita para vida
Num frenesim de medo
Por ter quebrado
As amaras do ventre materno
Em momento sublime de perfeição.
Poema perfeito é
O riso de menino
A cascata que canta
O rio que escorre mansamente
A flor que desabrocha.
Mas não sei fazer
Poemas perfeitos
Já não existe neve no meu país
Não existem estações
Há muito tempo que não nasce uma criança
As aldeias estão desertas e todos partiram
Deixando atrás de si , rastos de solidão
Pedras soltas, que rolam pelos montes.
Apenas os ventos ululantes
Raivosos , sombrios
Percorrem os caminhos semeados de ervas daninhas.
No velhinho cruzeiro
As almas perdidas reúnem-se à noite
Esperando pela eternidade
Presas no cativeiro do abandono
Sem flores nem velas
Que alumiem as lápides
Em cada manhã o astro rei renova a sua posição
Mas a esperança terminou
Porque o rio que outrora cantava alegremente
Calou-se para sempre
Sufocado com as ruínas
Das casas construídas com pedaços de fragas
Que a mão do homem amorosa e firme talhou
Um dia.
Apenas cortinas rasgadas
Acenam, pedindo socorro
Em cada um das janelas
Que ficaram para trás,
Mudas e quietas
Esventradas
Negras bocas
Pedindo auxílio
Sem som, sem cor
Esmaecidas
Sem letras.
O poema perfeito não existe
Apenas pedaços de palavras
Códigos indecifráveis
À mercê das intempéries
E de um tempo
Que avança sempre
Não sei para onde.

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