19 junho 2009

Miragens

Sou eterna filha do deserto
Sempre a clamar
Por uma sombra
Onde meu coração
Possa descansar.
Ergo-me ao vento
Que fustiga a carne
Deixando fios de linho
A esvoaçar.
Gritos mudos
Como almas de pássaro
Que não tem onde poisar.

As miragens espreitam
a cada olhar meu
Deitado ao horizonte
Alcançando oásis
Feitos de saudade
E o meu corpo jaz
Quase amortalhado nessa ansiedade.
Os meus olhos quietos, baços
Já sem vida, escavados na dor
São agora , apenas
Um espectro, um grito mudo
Sem eco de amor.

3 comentários:

HomemSemSombra disse...

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco

(Cesariny)

arroba disse...

Já não me conheço mais
quem eu era, já não sou
adormeci na barca
que para o Hades me levou.
Nestas águas caladas
feitas de negro cetim
são a minha mortalha
onde me esqueço de mim.
o sonho já se acabou
vislumbro apenas fantasmas
rasgando o ventre da noite
e eu em louco desvario
em grito verde e azul
nem vejo as margens do rio.
Nem a sombra do jasmim
nem o vestido de tule
que tu roubaste de mim.

HomemSemSombra disse...

"É triste ir pela vida como quem regressa e entrar humildemente por engano pela morte dentro"

"Este céu passará e então teu riso descerá dos montes pelos rios..."

(Ruy Belo)

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