13 julho 2009

Eros, Agape e Philia

"Amor: eros, agape e philia
Na sequência do texto Amizade versus Amor e do comentário que fizeram a gentileza de postar, voltei novamente ao tema deixando aqui um texto que encontrei no blogue "B-Logos", do Walter Neto que achei bastante interessante e que serve para comentar o Homem sem Sombra ....mais tarde voltarei ao tema...."Perdi o sono a pensar (melhor dizendo – viajando) sobre o que seria esse tal de amor. Difícil definir algo que se sente mais do que se fala, que se sonha mais do que se vive, que se deseja acima de um querer simples e imediato. A principal dificuldade está exatamente em que o amor não é algo concreto. Enquanto sentimento ele é abstrato, alguns alegadamente dizem ou imaginam que seja até elevado. Os nossos avós culturais – os gregos – tinham três palavrinhas para definir amor. O amor, para eles poderia ser amor-eros, aquele amor sensual, possessivo, egoísta. Eros é o amor que a sacerdotisa celebrava no templo em êxtase sensual. Eros, era portanto homenageado por uma mulher que se prostituía. Era o deus que não exigia sangue, mas o acto sexual que ali se transformava em acto religioso.No outro extremo, existia o amor-agape. O amor voluntarioso, sagrado, imaculado. O amor-agape é um amor que sai de si mesmo em beneficio do outro. É o amor que pode até negar o amante, desde que afirme o amado.Os primeiros cristãos tomaram agape emprestado e o fundiram na imagem de Jesus de Nazaré. A imagem do homem (ou Deus como desejarem) que se nega a si mesmo, toma uma cruz e morre perdoando é materialização de agape. Agape é perdão, aceitação, serviço em favor do outro, negação de si mesmo, amor incondicional, amor angélico. Tão angélico que se torna amor distante da nossa humanidade imperfeita.Entre agape e eros, os gregos percebiam um terceiro tipo de amor. Philia é o amor amizade, o amor bem querer, nascido da simpatia mútua e crescido na fidelidade. É o amor que tem algo de altruísmo no bem querer e algo do egoísmo ao exigir algumas condições para esse bem querer. Philia estende-se para além do humano e ama até o inanimado e o abstrato. Assim, fala-se em amor à liberdade, amor ao ideal. Como exemplo disso, Platão chega a afirmar que o filósofo é aquele que ama (philia) a verdade.Mas serão eros, agape e philia três amores distintos como distintos são os termos gregos para designá-lo?O ponto de vista que pretendo demonstrar aqui é que não. Todos esses termos são dimensões ou condições psicológicas de um mesmo e único amor. As barreiras que impedem o trânsito entre um e outro não são factuais, são meramente construções culturais interiorizadas sem uma reflexão mais profunda de nossa parte.O amor-philia, da amizade entre pessoas de sexos diferentes ou não, pode facilmente transitar a amor eros na concretização de desejos sensuais, empurrados para baixo do tapete por toneladas de cultura repressora. São desejos que existem – portanto reais - apesar da nossa vontade de vê-los como impuros. Assim, não se devia perguntar: estamos confundindo as coisas? Não há confusão alguma! São apenas três dimensões, ou termos, para o mesmo e único amor. Ao contrario, deveríamos perguntar: estamos transitando no nosso amor?Já consigo ouvir uma objeção a esse meu pensamento. Essa objeção seria a de que quando se “confunde” philia com eros a chance de se perder a philia, ou seja, de se jogar uma bela amizade fora, é gigantesca. Insisto que não seja assim porque o trânsito entre um e outro é bidirecional. Tanto se vai da amizade ao sensual quanto do sensual para a amizade (não é o segundo caso que acontece tanto em relacionamentos que, após vários anos, perde completamente a paixão sem perder o afecto?).
O único impedimento para esse trânsito é somente o nosso medo adolescente de não termos maturidade suficiente para continuar aceitando o outro sem as cobranças de posse típicas do eros. Nesse caso realmente fica difícil manter um amor-amizade com base no transformar o outro em algo a ser possuído como “meu”. Como eu disse anteriormente, isso, no entanto, não é um impedimento real, mas uma degradação do amor para o lado ruim de eros (esse lado ruim não é de forma alguma o sexo – mas a posse).O trânsito entre philia e agape penso ser ponto pacífico. Por isso não gastarei linhas com esse.Resta-me analisar o trânsito entre eros e agape. E que maravilhoso exemplo desse trânsito nos dão aqueles casais simpáticos de idade avançada sentados no banco da praça a conversar, andando de mãos dadas pela rua (mãos que se deram em philia, eros e agora encontram agape). Esse exemplo, entretanto, não é exclusividade de casais com uma longa vida a dois, mas de casais que amadureceram seu amor da posse à doação. Não é privilégio de casais velhos, mas de casais maduros que conseguiram alcançar a plenitude do amor em eros, em philia, e em agape, abolindo o lado ruim de eros (a posse), de agape (a negação do eu), e de philia ( a superficialidade).Casais maduros são o melhor argumento (a guisa de prova) que posso dar da unicidade do amor nas suas três dimensões.Apesar de termos os nossos momentos de cada uma destas dimensões, penso que o ideal é mantermos a vontade de, no todo, vivermos um amor pleno. Amor esse que não será jamais conquistado sem muito suor e, quem sabe, algumas lágrimas, mas que recompensará nosso coração igualmente carente de afeto, doação e sensualidade."

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