Quem lha ofereceu foi a linha do horizonte, que se deitou sobre ele. Espécie de colo de novela negra, uma Auá ebúrnea.
Vaidoso, calmo e vagabundo.
Todos o olham e não é de ninguém.
Das margens, avisto de quando em quando, um fino estilete a marca-lhe as entranhas, pequeno batel
de luz vermelha a fazer lembrar um rubi
que desliza sereno, talvez uma ínfima gota de sangue que jorre dolorosa.
Reflexos ígneos de um Conde de Monte Cristo, uma mão de finado que se ergue da escuridão.
Sei pela luz que passa, e que risca o firmamento, que alguma estrela cadente se enamorou do rio e desce rápida ao seu encontro. Outras há que brilham ainda seguras lá no cimo. Ainda distantes, ainda longínquas. Não importa onde estejam; um dia um tempo virá, em que todas as estrelas do meu infinito virão banhar-se nele e o Tejo será um eterno luzeiro a brilhar no caminho- Solitário, vagabundo e seguindo até à foz. Sempre de uma beleza que se fosse humana seria insuportável, guardando o brilho das pratas. É talvez por isso que ainda não sou estrela cadente. É talvez também e ainda por isso, que me assemelho mais a um fino estilete. E rasgo-te a espaços amiúde, tentando entender de que é feito o teu veludo aquífero. E continuo a não entender o porquê deste equilíbrio entre nós dois. Tu aí altivo a correres-me aos pés e eu na margem a tentar agarrar-te os sonhos que levas para o mar.
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