14 outubro 2010

Coisas simples

Quando alguém como eu é confrontado com o branco de uma folha de papel, sente, mesmo sem querer, a responsabilidade de a impregnar de vida. E porque nas palavras existe vida. Letra a  letra, mau grado a comparação, funciona aqui a caneta, ou o teclado, como uma estranha agulha que norteia e vai bordando com delicadeza. O trabalho final que se pretende pode resultar bem, o inverso também poderá acontecer.
É das teias da alma, das vivências, do caminho percorrido que vamos buscar o fio condutor, poderá ser material singelo, ou ( ocorre-me agora)  fio de ouro ou prata tal como aquele com que antigamente se bordavam os paramentos. Resultava sempre bem, belas peças de arte que ficaram religiosamente guardadas  nos arcazes das sacristias.
Pois tal como esses delicados paramentos, existem aqui ideias bordadas , gravadas nas mais diversas cores e que correspondem a emoções e sentimentos que guardamos na nossa matriz como seres humanos.
Hoje quero falar de gestos simples. Quero sobretudo agradecer desta forma um testemunho de amizade singela que me chegou de terras de Alcobaça, uma espécie de sinal, quem sabe um emissário de Pedro e Inês para que eu não esmoreça, que por muito que a vida seja escrita com fio de burel, haverá sempre quem nos traga uma encomenda de novelos da mais pura seda para que possamos trabalhar as letras e as palavras dessa forma quase acetinada.
Desta forma, ergo em cadinho de cristal, um delicioso néctar  que me embalou docemente  pela tarde fora,  compartilho o sorriso e as palavras, que teci com amizade, agradeço ao emissário e desejo, mais diria, antes sonho, que um dia  consiga eu bordar na folha singela de um livro o meu obrigada pela força que me transmitiu.
Nem sempre a vida faz sentido, outras sim. Gestos simples, como tal perfeitos e isentos,  são gratificantes  para quem dá e para quem recebe. Aqui fica,  não o equivalente a um lenço de namorados, mas a uma alva toalha de chá, repleta de finas iguarias, chávenas de porcelana, e bolinhos de gengibre e canela .
Obrigada Petrarca

1 comentário:

PM disse...

Hesitei pelo menos três vezes se havia de deixar aqui algum comentário. Tudo por causa da última linha.
Mas para que conste e para que se saiba que li o post, aqui deixo a prova nestas palavras.
Quanto ao texto, um exagero na parte que me diz respeito, mas como não sou mal agradecido, aceito o chá com bolinhos de gengibre e canela :-) e deixo o meu obrigado.
E faço votos para que a ideia vá em frente, mesmo contra ventos e marés.
Petrarca