03 janeiro 2012

Tempestades



Farol da Guia. 1900.
Aguarela s/ papel. 35,5 x 39,2 cm.
Colecção particular.
Foto: Pedro Aboim Borges
A minha vida é um rio
Sempre a correr para o mar
Ecos da minha génese
Que não consigo parar.

Percorro montes e vales
Sempre a serpentear
Roubo das latadas
Cachos de uvas, jasmins
E flores de absinto.
E deixo-me embriagar
Malvasia, moscatel
Em  cálices de puro âmbar
Em leitos feitos de mel.

E vou deambulando
Até à foz deste meu rio
Onde a vida me quer levar
Espraio a minha alma  azul
Com fímbria branca a debruar
Por entre a espuma das ondas
Que te querem abraçar
E neste suave balanço
Num vai e vem sem ter fim
De sete em sete ondas
Avassala-me a saudade
Que sinto dentro de mim
Então surge a tempestade
E o mar rola furibundo
Sempre à procura de ti
Galga terra e galga pedra
Vai ao cimo e vai abaixo
Vai até ao fim do mundo
Sem nunca te encontrar
Onde foi que te perdi
Porque me deixaste afogar?



12 comentários:

Unknown disse...

Arrobamiga

Mais uma bela poesia, com ritmo, com força, com sentimento, com vida. Porquê e para quê o fim triste? Tu éke sabes, eu éke te pergunto porque me deixaste... perguntar?

Tens de ir ver A outra esquecida. É verídica e é pessoal; mete a minha malta dos Ferreiras

Bjs da Raquel e qjs para tu

Unknown disse...

Estimado Amigo Antunes Ferreira, sendo o Fado património imaterial da Humanidade e sendo eu portuguesa nascida na terra do Fado, é meu fadário ter um fado assim... uns há que nascem com o traseiro virado para o luar, pois eu quando nasci dizem que uma fada me viu e me condenou a ser como um rio, sempre avistando as margens e, contudo tocando-as e não as podendo ter, mas nunca seria rio se as mesmas não existissem; assim sou eu: um tropel de água que se atropela e tudo galga até se afogar num imenso oceano da mesma água agora salgada...sendo que a nascente de água doce ficou há muito para trás, perdida no tempo.Malfadado fado, má sorte, "erros meus", "amor ardente" e eu aqui ao correr da pena, já tão descrente.

Celso Mendes disse...

Um lamento belo e lírico. Um fado, realmente. Um belo fado.

Beijo.

sagher disse...

Também há muito que aqui não vinha, é um prazer revisitar-te. a poesia será sempre uma fonte de interrogações da alma

OceanoAzul.Sonhos disse...

Um mergulhar em sentires...
Lindíssimo poema!

beijinho
cvb

Marta Vasil (pseud.de Rita Carrapato) disse...

Cheguei aqui através do FB. Desculpe a intromissão.

Gosto da presença da natureza na poesia; e ela vinga de maneira forte neste poema que acabei de ler deliciada; um caminhar constante e uma procura permanente até ao encontro, que ainda não aconteceu.

Petrarca disse...

Haverá assim tanta gente que tenha nascido com o traseiro virado para a lua? E não somos nós os donos do respectivo traseiro e não somos nós que o viramos para onde nos dá mais jeito? :)
Quanto ao poema, para não me repetir, não digo nada. Bom como é hábito por aqui. :)
Bjo.

Unknown disse...

Celso Mendes, obrigada pela sua visita que tenho que retribuir pois também gosto bastante de o ler.
Abraço poético.

Unknown disse...

sagher,
Agradeço a sua visita, volte sempre. A poesia é também uma fonte de satisfação da alma, ajuda-nos a encontrar respostas e a ver o mundo sob uma outra perspectiva.
Abraço poético.

Unknown disse...

Oceanoazul.sonhos
Olá, olá mar de rosas -:) estou em falta para consigo, espero que me perdoe ( se me ler); prometo que muito em breve darei novidades.
Obrigada pela visita e um beijinho com amizade.

Unknown disse...

Marta Vasil,
Entre e o blogue também será um pouco seu e dos que visitam; seja bem vinda e obrigada pela amável visita e comentário.
Abraço poético.

Unknown disse...

Petrarca meu Amigo,
Estou em falta uma vez mais! Muito agradeço o seu constante apoio e visita; apareça por "lá"!!!
Deixo-lhe um abraço com amizade.