Quem me dera a mim outro destino.
Porque te falo de ódios, e amores, de dias cinzentos e de momentos em que o fôlego cessa.
E porque todas as horas me matam e de mim apenas nasce o cansaço.
Quem me roubou a minha solidão a troco do nada? Que ficou no lugar dela?
Sou de uma nova raça de pele cor púrpura com vestes de desejo.
Já nem espelho sou, tão embaciada em mim anda dor.
Contudo sei-te de cor de tanto te reinventar: continuas a existir em mim.
Pertenço a um estranho corpo místico, porque odeio a minha carne.
E Pai perdoa-lhes, que também eles não sabem o que fizeram
ao matarem-me a esperança
assassinaram também o desejo.
Agora tacteio na tua alma, de olhos cegos – os teus e os meus.
Já esqueceste quando eu te disse que era tua, e contudo foi tão pouco, porque eu queria mais e mais.
Se eu fosse um perfume que impregnasse o teu imaginário e te deixasse em ti a sede
De um cio incontinente.
Mas nada disso sou, aconteço aqui e agora num supremo espasmo que desagua no mistério.
De não saber do teu desejo, de não saber de ti, de não saber de nós.
Ardo esquecida numa espécie de altar, punição de ousar o sonho
E porque te ousei amar, a ti coleccionador de nomes e de corpos.
E agora digo, com base na memória que a tua pele sabe a Verão, ao calor dos frutos amarelos, quando te beijava o corpo impaciente, quando a minha boca te envolvia em sedas, com gosto a sal das marinhas, com gosto do doce dos ananases e o halo da sombra das palmeiras, onde crescem cachos de bananas que a minha mão acaricia leve.
Tudo isso eras tu no sonho. Irrompias em pedaços de espuma e refrescavas a nova raça dos seres de cor púrpura.
3 comentários:
Sabes, poeta?
O pior do sonho
é que é apenas isso:
um sonho!
Sonho/pesadelo:)
O sonho é isso: viver o imaginário como se da realidade se tratasse!
Bjo
Arrobamiga
Belo poema também ele da cor da purpura. Cor de poeta, cor que me deixa emocionado. Cada vez que por aqui passo, fico assim. Por tudo, como canta o Carlos do Carmo, muito obrigado
Bjs da Raquel e qjs para tu
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