Metades
Imagino a realidade como se fora uma laranja.
Ontem havia pensado em maçã.
Faço-lhe pequenos cortes transversos
Entalho o sonho e imagino a arte
Não atingi nunca a perfeição
E arte é o fim, tal como a morte
Sendo a vida o caminho, ando eu aqui
A entalhar, a modelar este enigma
Sempre constante que ainda não descobri
Não sei se é um pensamento de sonho
Onde me perco.
Se sonho que me acho no pensamento
E a minha laranja continua dividida em duas metades
E uma sem a outra vai mirrando
Mas quando busco algo, as coisas já não são
Como no sonho, como no pensamento.
Deslocam-se, fogem-me das mãos
Escorre-me o sumo entre os dedos
Escorre-me o doce da boca, entre os lábios
Nasce um pedaço de desejo, mesmo ali
A cair por mim abaixo.
Eu não devia ter feito cortes transversais
Porque só mais lá para o fim é que serei perfeita
E eu não quero morrer assim.
11/08/2012
Maria João Nunes ( Inédito)
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