A ave domesticada vivia numa gaiola. A ave livre vivia na floresta.
Encontraram-se um dia. Era do seu destino.
A ave livre grita: “Ó meu amor, voemos para a floresta!”
E a prisioneira murmura: “Vem cá tu dentro, viveremos juntas.”
A ave livre diz: “Como posso entre grades estender as minhas asas no frémito dum vôo?”.
“Ai de mim, diz a outra, onde encontrar eu poiso na vastidão do céu?”
A ave livre torna: “Ó meu amor, entôa, os cantos das florestas!”
E a prisioneira diz: “Ficai junto de mim. Ensinar-te-ei as canções que aprendi.”
A ave da floresta, responde: “Não! Não! Os cantos não se ensinam!”
E a prisioneira: “Ai de mim, não conheço os cantos da floresta!”.
O amor e o desejo, vão par a par no seu peito, mas nunca poderão voar juntas, a par.
Contemplam-se através das grades e em vão procuram conhecer-se uma à outra.
Batem as asas, queixosas e cantam:” Vem mais perto de mim, meu amor!”
A ave livre diz: “Não posso, tenho medo das portas do teu cárcere.”
E a prisioneira chora: “Minhas asas morreram já não sabem voar!”.
In Antologia de Autores Portugueses e Estrangeiros; Poesia de Rabindranath Tagore ; Ed. Confluência.
2 comentários:
Em tal gaiola dourada onde toda a felicidade do mundo existira, vivia agora uma tristeza que nem os imensos céus poderiam conter.
Fechando os olhos acolheu a morte num profundo suspiro.
Contam que em torno da gaiola cresceu uma árvore e quem ali adormece ouve os mais belos cantos de toda a floresta.
Preso numa gaiola que afinal não existia e observando que o chão sob os seus pés desaparecera subitamente, o Pássaro da Alma voou desaparecendo no azul eterno dos céus...
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