05 abril 2009

Solidão



E se um dia ou uma noite um demónio imperceptivelmente se arrastasse até à tua mais isolada solidão e te dissesse: "Esta vida, assim como tu a vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez mais e mais vezes sem conto: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande na tua vida te há-de voltar, e tudo na mesma ordem e sequência, e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez, e tu com ela, ínfimo grão de pó da poeira!". Não te lançarias ao chão rangendo os dentes e amaldiçoando o demónio que assim te falava? Ou viveste alguma vez um portentoso instante, em que lhe responderías: "Tu és um deus e nunca ouvi nada mais divino!" Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te esmagasse: a questão em relação a tudo e todos, sobre se "Queres tu isto uma vez e mais vezes sem conto?" permaneceria com o maior peso sobre as tuas acções! Ou, então, como terias de te sentir bem em relação a ti próprio e à vida para não reclamares mais nada senão esta última eterna confirmação, esta última eterna sanção?
Friedrich Nietzsche

2 comentários:

pianistaboxeador21 disse...

Às vezes nada parece fazer sentido. Nem existir, nem não existir. Morrer é um saco, mas a eternidade tb é um saco. E aí? Correr pra onde? Fazer o que?

Assisti ao bade runner esses dias atrás. É triste imaginar todas as coisas que vi, todos os filmes, todos os livros, toda a ate todas as emoções, enfim é trist imaginar que todo o mundo que existe dentro do meu peito deixará de existir junto comigo."Serão como l´grimas na chuva"

Abração,

Daniel

Iolanda Aldrei disse...

Como sempre é um abraço maravilhoso chegar a esta casa, por isso há um surpreso em http://janeladamoura.blogspot.com.
Muitas saudades