26 abril 2011

O nome de todas as coisas.


Júpiter e Mnemosine
  Marco Liberi (Veneza, c. 1644 - desp. 1691), pintor italiano activo durante o período do Barroco tardio.

Todas as coisas são grandes no mundo inteiro e fora dele.
Em cada coisa nomeada existe o som e o tempo e a força  de tudo o que acredito.
Só assim existo através do nome de todas as coisas.
E navego no barco de longas velas enfunadas ao vento , e , porque também o vento se chama de coisa, ora medonha ora suave
Porquê chamar o que não tem nome, o que não o é, nem nunca o foi? Apesar de todas as coisas terem um nome.
Esta  necessidade imperiosa de chamar nomes ás coisas; às coisas que não o são que nunca o foram, que nem chegaram a ser.
Quantifico-te, coisifico-te, garanto-te assim a tua existência no mundo inteiro através de mim.
Tu não existes se eu não te nomear! Nem tão pouco és coisa do meu pensamento. Tu não és!
Eu sou!  Sou rio, sou a vida que sozinha enche o meu mundo e dá sentido ao cantar das aves ao risos das crianças, ao sofrimento dos homens; sou eu que detenho o poder de estancar a gota de chuva que cairia certeira no chão não fosse o meu gesto de te chamar gota e  de te estender a minha mão e, então, tu cais suave  e eu nomeio-te pelo nome de todas as coisas, gota de cristal.
E o mundo inteiro nasceu assim de uma gota que  inventei. Uma gota, duas gotas que se tocam e geram o inteiro universo, teu e meu. Daí em diante todas as coisas foram grandes no mundo inteiro; fora dele o foram quando te chamei de meu e aprendi a amar-te fora de mim.

1 comentário:

A.S. disse...

Belissimo texto! Para ler e reler...
Parabéns!

Beijos,
AL