Há uma falsa mansidão em mim. Não te iludas quando me sentes assim quieta. No instante seguinte posso acordar do torpor, aparente letargia com que te engano e me tento enganar a mim também.
Já olhaste bem dentro dos meus olhos? Estranhas águas quase rasantes ocultas à sombra dos choupos. Quase que se escondem para que não sejam olhadas por estranhos; incautos que desbravam sem dó a essência do que está por descobrir.
E o meu olhar é nascente de um rio. Quase seca.
São as mil chuvas de Abril que lhe emprestam ainda alguma seiva. Em poucas horas florescem narcisos e violetas selvagens. Na encosta os pés de morangueiro já não tem tempo de transformar a flor em fruto. Há urgência na natureza deste corpo entorpecido. Contra-senso; máscara?
Não queiras saber que rios subterrâneos me correm debaixo da pele morena. Há uma espécie de frémito, quase imperceptível, nem tu dás por isso. Sou eu apenas o refúgio de mim mesma. Estranho viajante sem saberes os perigos que te esperam aportas à ilha, desembarcas descuidado esquecendo que todo o crime tem castigo ; secaste os rio dos meus olhos. Resta-me o imenso deserto e todo este torpor com que aparento ser quieta. Não te movas… não me faças mover…fica…estático, como quem jaz . Espera que o horizonte te venha buscar, é lá por esses lados que existe ainda um oásis chamado a terra dos meus sonhos. Lá voltarei a ter pedaços de mar escorrendo-me na face e o sal nos meus lábios purificará de novo a existência dos que acreditam , dos que tem fé. De novo receberás o baptismo e serás ungido. E o sonho não terá fim.
3 comentários:
Há-de haver algures uma nascente para o rio que desaguas em mim...
Beijos,
AL
renovações.
redescobertas.
reinvenções.
o novo éden na boca da palavra!
beijos!
Esplêndido!
Alguém que se conhece
dentro da própria alma
que chega a espantar
ela mesma,
a alma
...
beijo carinhoso.
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