22 abril 2011

Mimetismo


Há uma falsa mansidão  em mim. Não te iludas quando me sentes assim quieta. No instante  seguinte posso acordar do torpor, aparente letargia com que te engano e  me tento enganar a mim também.
Já olhaste bem dentro dos meus olhos? Estranhas águas quase rasantes  ocultas à sombra dos choupos. Quase que se escondem para que não sejam olhadas por estranhos; incautos que desbravam sem dó  a essência do que está por descobrir.
E o meu olhar é nascente de um rio. Quase seca.
São as mil chuvas de Abril  que lhe emprestam ainda alguma seiva. Em poucas horas florescem  narcisos e violetas selvagens. Na encosta os pés de morangueiro já não tem tempo de transformar a flor em fruto. Há urgência na natureza deste corpo  entorpecido. Contra-senso; máscara?
Não queiras saber que rios subterrâneos me correm debaixo da pele  morena. Há uma espécie de frémito, quase imperceptível, nem tu dás por isso. Sou eu apenas o refúgio de mim mesma. Estranho viajante sem saberes os perigos que te esperam  aportas à ilha, desembarcas descuidado esquecendo que todo o crime tem castigo ; secaste  os rio dos meus olhos. Resta-me  o imenso deserto e todo este torpor com que aparento ser quieta. Não te movas… não me faças mover…fica…estático, como quem jaz . Espera que  o horizonte te venha buscar, é lá por esses lados que existe ainda um oásis chamado a terra dos meus sonhos. Lá voltarei a ter pedaços de mar escorrendo-me na face e o sal nos meus lábios purificará de novo a existência dos que acreditam , dos que tem fé. De novo receberás o baptismo e serás ungido. E o sonho não terá fim.

3 comentários:

A.S. disse...

Há-de haver algures uma nascente para o rio que desaguas em mim...


Beijos,
AL

Jorge Pimenta disse...

renovações.
redescobertas.
reinvenções.
o novo éden na boca da palavra!
beijos!

Domingos Barroso disse...

Esplêndido!

Alguém que se conhece
dentro da própria alma
que chega a espantar
ela mesma,
a alma
...

beijo carinhoso.