22 abril 2008

Podeis desistir, mas não desisto de vós...



Devo ter gerado mais outro monstro dentro de mim - Pensava eu - enquanto me olhava ao espelho, enquanto sentia, sem compreender, o que tinha sido gerado. E porque nem sempre compreendemos o que criamos!
Como era possível gostar tanto de algo que me magoava e que invadia o meu espaço?
Como é possível não pensar nos sentimentos e sentir com os mesmos o pensamento?
E agora?
Agora, sussurrava-me a minha voz interior – tens dois caminhos, (e eu dizia: não! São 4 os caminhos – estou numa encruzilhada).
Sempre continuando a olhar-me no espelho, conseguia aperceber-me, apesar do denso nevoeiro que tudo embaciava , de dois enormes poços escuros cheios de água salgada.
Tudo em redor era seco, as árvores curvavam-se sem folhas, sem húmus a percorrer o tronco.
Este monstro tinha nome, tinha raízes cada vez mais fundas e alimentava-se de mim e, contrasenso ou não, eu permitia que tal acontecesse, apenas por medo!
E o medo gera esta raiva contida, a frustração, E a vida foge ao controle, descarrila , caindo na ravina, no abismo.
Os passos ficam trôpegos, cansados, suportando um peso desmedido, apenas por medo de aliviar a carga de um tempo indeterminado sem prazo de validade em lugar nenhum.
Olhar para cima, desviar-me da imagem que criei, do espelho que me enfeitiça…
Há momentos na vida em que o silêncio fere, rasga-nos devagarinho, criando sulcos vermelhos de dor. Mas continuamos teimosamente a sofrer, porque o medo de perder a nossa linha do horizonte é maior do que o medo de perder a bússola que nos orienta para essa ou outra linha.
O monstro é o medo!
Subitamente as águas galgaram o muro, correram livres , encosta abaixo rumo ao imenso oceano, e deixaram para sempre escrito na pedra:
Grava-me,
como um selo em teu coração,
como um selo em teu braço;
pois o amor é forte, é como a morte!
Cruel como o abismo é a paixão;
suas chamas são chamas de fogo
uma faísca de Deus!
As águas da torrente jamais poderão
apagar o amor,
nem os rios afogá-lo.
Quisesse alguém dar tudo o que tem
para comprar o amor...
Seria tratado com desprezo

(Cântico dos Cânticos (Ct 8,6-7)

“Podeis desistir, mas não desisto de vós; continuarei a inundar o mundo de dons e pedir que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei."

4 comentários:

**Viver a Alma** disse...

Como foi prazeiroso ler este seu texto. - A saber: "prazeiroso advém do termo "prazer", quero com isto dizer que estou já a adoptar o tal "acordo ortográfico"...rsrsrsrs.

Porém, neste texto,há algo que me confunde:como pode ser Deus uma faísca na paixão?
Deus só está no Amor...numa doação tal que nenhum ser humano consegue imaginar, quanto mais igualar! Nada do que se pratica neste Plano, se pode chamar de AMOR! - talvez sim...uma réstea brilhando num amor que tende ser MAIOR!Portanto...que ninguém se engane, muito menos a menina. Paixão é a sobrevivência dos sentidos, alimentados por um "ego" que teima em não ser incógnito e, num patamar diametralmente oposto,vive-se então, os sentimentos.Paixão, é coisa fugaz. Não se pronuncia:"foi paixão á primeira vista!"...mas sim,nessa primeira impressão de quem se reconhece no "amor", nessa empatia momentânea, mesmo que se desfaça depois.
Uma coisa é certa: Deus não pode ser chamado para algo tão sem sentido e por ser vago!
Existe porém outro ponto que me deixa apreensiva:é o tal "medo" que existe, porque as pessoas ainda não souberam sair da dualidade e separatismo: têm "medo" de perder, mas também têm "medo de ganhar... quer sejam felizes ou não...o "medo" está presente em algo, sempre. Isto,aprisiona as pessoas e cria mau estar, dor, doença. Como pode alguém dizer que não tem "medo" quando ele sustenta uma parcela da vida? como pode alguém dizer que o silêncio é o que dá sabor á VIDA - aqui com letra grande - quando nessa "vida" não há silêncio, quando os espelhos não reflectem o que se "é e sente", e ainda quando se não gosta de estar só... devido ao "medo" e a esse mesmo "silêncio"?! Deixo no ar estas reflexões. Um abraço meu cheio de carinho. "Mariz"

Unknown disse...

Mariz:
Deus não é, certamente, uma faísca na Paixão.
Entendo as "faíscas" de Deus como o fogo pleno do Amor, ou como "veementes labaredas".
E porque o Amor é forte como a Morte", (a Paixão implica ciúme) e, "este é duro como a sepultura ou: "Cruel como o abismo é a paixão (ciéme icncluido).
As chamas do fogo (faíscas de Deus) só podem corresponder a um Fogo Maior que nenhum rio, nenhuma água poderá jamais extinguir.
Quanto ao "medo" infelizmente existe no mais intimo de cada ser humano, aprisiona é certo, mas...ainda temos o livre arbitrío, que nos pode ajudar a encontrar os Caminhos possíveis para sair da escuridão e lidar com o "monstro".
è dificil,mas a arte de saber viver vai-se aperfeiçoando diáriamente (para quem quiser ser um bom aluno, alguns há que chumbam e perecem na beira do caminho).
Quanto ao espelho, faz-me falta, olho-me nele e sei instintivamente quem está do outro lado e como deveria proceder.....nem sempre tal acontesse..tropeço e caio...
Abraço com amizade
Arroba das Palavras

P.S. Existem tantas interpretações do Cãnticos dos Cãnticos que eu própria me perco nelas.
Basta sentir com os olhos da Alma.

Unknown disse...

Shiiiii....favor ler "ciúme" e "acontece"....aconteceu mesmo e nem sei como emendar!
Esta minha precipitação em jorrar palavras dá nisto: erros crasso! nem o acordo aqui me valia, ainda se tivesse escrito cágado....eheheheh

Unknown disse...

*crassos"! hoje já não escrevo mais , estou de castigo (relendo)