15 abril 2008

Sempre me senti querida e amada pelos meus pais.Cada um a seu modo tratou de transmitir bons principios, confiando, tal como eu, que o futuro seria sempre risonho.
Criança normal, cheguei pela primeira vez à escola primária, com um fatinho amarelo de lã e um gorro da mesma cor na cabela.Hoje penso que devia parecer um pato amarelo. Levava na pasta algumas preciosidades, tais como uma borracha com um cheirinho delicioso - até dava vontade de a trincar!Uma caixa de lápis Viarco e livros novinhos em folha.
Mas o pior eram depois as réguadas, uma grossa régua de madeira e o enorme ponteiro de cana da índia! A escola fazia-me sono, detestava ter de escrever direito e era obrigada a preencher inúmeros cadernos de caligrafia, já que a minha letra eram algo disforme.Já era rebelde por natureza, fingia que estudava e dentro da gaveta da secretária escondia livros aos quadradinhos que tirava à socapa do quiosque da Dona Jesuina. Era uma devoradora compulsiva de tudo o que se me apresentava escrito.
Tsntos livros, desde a Condessa de Ségur até aos célebres livros dos 5, fábulas e estórias de fadas, príncipes e reinos encantados que eu devorava pela noite dentro, sempre acabando a leitura debaixo do lençol e apenas com uma mínuscula pilha eléctrica.
Fui armazenando dentro de mim um imáginário fabuloso, crédula que a realidade seria de facto assim mesmo.
Descobria passagens secretas, trilhos obscuros, e tinha até um local mágico debaixo de uma figueira, a casa secreta das brincadeiras, fizesse chuva ou sol a cantilena soltava-se fácil dos meus lábios : "Está a chover e a fazer sol, é a Ana feiticeira a cavalo na figueira e as bruxas no farol a moer pão mole".
Chegava o tempo de férias, num mar azulinho, e, eu de boia à cintura, na então despoluida praia dos Pescadores ou na praia da Conceição deliciava-me com as construções na areia, e as banhocas, sempre sobre o olhar vigilante dos meus pais. Depois vinha o almocinho, pleno de cheiros deliciosos, quase sempre peixe grelhado acompanhado de belas saladas com um gosto fabuloso que nenhuma das gerações vindouras poderá alguma vez mais sentir.
Lanches , pic-nics, e muito contacto com a natureza, era isto a felicidade!
Infancia passada, adolescência chegada era o tempo de descobrir o porquê de novos mistérios e o sexo masculino intimidava-me.

2 comentários:

Heloisa B.P disse...

Ah, nostalgia!
Ah, cores e sabores e misterios (entao) por desvendar!
_creio, que os "MISTERIOS", continuam por desvendar, os SABORES E AS CORES E' QUE JA' NAO SAO OS MESMOS! e, atrevo-me ate' a dizer que por mais sabores que "provemos" e, CORES "AQUARELADAS" QUE PINTEMOS, JAMAIS A "CANTILENA" DO SOL E DA CUVA E' IGUAL NEM AS FIGUEIRAS!!!!!
_ADOREI!
_VOLTAREI!

SAUDACOES.
Heloisa B.P.

Um Momento disse...

Fizeste-me voltar ao passado...
Sorri perante este teu relato de infancia feliz...
Viarco... quantos patos donald pintamos?... mickey's , margarida's...bambi´s a indicar no caderno o virar de uma nova etapa , um novo ano...
Pic nic's... e os cinco!!!!
Devorava eu também cada livro, cada aventura... ah ... e a "lagoa azul " não?
Simplesmente adorei este belo Momento
Grata!

Beijo nostálgico:))))))))

(*)