16 outubro 2008

Viagem de comboio




A lua rolava espelhada no vidro da janela do comboio, mais parecia um berlinde de vidro gigante.
Brincava de esconde-esconde com as luzes do casario que desfilavam em galope rápido, desguarnecendo a paisagem. A estrada marginal estreitava com a fila de carros parada, enquanto o meu olhar poisava descuidado na folha A4 afixada,que aconselhava os passageiros a não gastar gasolina, não pagar portagens, não andar às voltas para estacionar e, assim sempre poder dispor de tempo para ler ou escrever, entre o vai- e- vem de gentes com semblantes taciturnos, já sem a pele tisnada do verão há muito distante.
Carruagem cheia, meia adormecida, lendo , alguns ( poucos), como o meu desconhecido companheiro de viagem, sentado no banco, mesmo em frente que lia José Afonso – "Textos e Canções". Mais adiante, duas filas ao lado, uma figura feminina segurava páginas de um livro sobre Fen- Shui, capa amarelada que o meu olhar mal identificava.
Quase 21:30, lá fora a noite rolava escura, e deixava entrever o som forte do rodado sobre o carril de ferro, apenas cortado pelo aviso, igualmente sonoro, da identificação de próxima paragem.
À excepção de um pequeno gnomo verde de olhar risonho, gargalhada fácil e cristalina, alheio às rotinas e aos mil pensamentos de sobrevivência das formigas humanas no carreiro, nada mais era digno de menção.Trilhos de uma nova escravatura do século XXI, esperando ansiosos pelo dia de amanhã, quando o sol volta a nascer, dia após dia! Até que a morte os liberte!!!

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