Porque trago em mim
esta alma vestida de
negro cetim
que me faz criada de servir
perante a vida?
Que penitência
possuir-me assim
este espiríto de paciência
feito de uma causa perdida?
Às vezes penso,
quando penso
já não como quem pensa
mas sente, algum rasgo
de perdida crença ainda inocente
Consigo sonhar
como criança
ainda que alheia vontade
me impeça
e me tolha a esperança.
tentar cegamente
mandar no que faço
automatizar-me o acto.
Já me cansa, tal servilismo!
Já cismo em rasgar o fato
de criada de servir!
Em vez da branca crista
a coroar-me as ideias
um diadema de estrelas
numa aura de finas teias
uma veste acetinada
onde a tua branca mão
possa tocar encantada
descendo num toque doce
pelas meias de cristal
de fina malha rendada
rasgando-me o preconceito
que me faz viver assim
deste modo,
enclausurada!
Já cismo em rasgar o fato
de criada de servir
consciencializar o acto
que me fará implodir.
1 comentário:
Um belo jogo de palavras, muito ritmo, ironia quanto baste, uma dose de sensualidade, tudo misturado por mão de "criada de cozinha", que sabe do seu ofício. Leve-se ao forno bem quente. Retire-se quando começarem a aparecer rasgões na superfície acetinada da crosta e ponha-se ao frio, afim de provocar a implosão!
Há bolos que só se devem comer, sem preconceito, apanhando as migalhas...
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