Por falta de tempo , não coloco aqui, agora, qualquer texto de minha autoria,mas urgia no meu espírito poder comunicar algo, ainda que através do Mestre Almada Negreiros que muito aprecio.
Deixo-lhe a ele o Mestre a tarefa de me fazer chegar através deste convite.
A Taça de Chá
O luar desmaiava mais ainda uma máscara caída nas esteiras bordadas. E os bambus ao vento e os crisântemos nos jardins e as garças no tanque, gemiam com ele a avinharem-lhe o fim. Em roda tombavam-se adormecidos os ídolos coloridos e os dragões alados. E a gueixa, porcelana transparente como a casca de um ovo da Ibis, enrodilhou-se num labirinto que nem os dragões dos deuses em dias de lágrimas. E os seus olhos rasgados, pérolas de Nankim a desmaiar-se em agua, confundiam-se cintilantes no luzidio das porcelanas.
Ele, num gesto ultimo, fechou-lhe os lábios co'as pontas dos dedos, e disse a finar-se:--Chorar não é remédio; só te peço que não me atraiçoes enquanto o meu corpo for quente. Deitou a cabeça nas esteiras e ficou. E Ela, num grito de garça, ergueu alto os braços a pedir o Céu para Ele, e a saltitar foi pelos jardins a sacudir as mãos, que todos os que passavam olharam para Ela.
Pela manhã vinham os vizinhos em bicos dos pés espreitar por entre os bambus, e todos viram acocorada a gueixa abanando o morto com um leque de marfim.
Almada Negreiros, in 'Frisos - Revista Orpheu nº1'
1 comentário:
Tantos blogues que gostava de ver e ler, outros tantos em que passo e nem sequer os chego a ver.
Mas existem outros, que não nos cansamos de os ler, porque em cada palavra saboreia-se a nostalgia tranquilizadora de cada mensagem que nos enriquece o saber sem nunca chegarmos a agradecer...
O tempo é sempre o grande culpado destas contrariedades, mas por vezes a preguiça também ajuda.
As desculpas só serão válidas quando verdadeiras.
Um beijo
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