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A cidade de Pamina e Tamino .
Todas as cidades são feitas de desejo. E o desejo é a falta, a ausência, a carência. Cidades cheias/ cidades vazias. Esta minha vontade potencia o auto-estímulo e faz nascer em mim toda uma cidade construída, alicerçada neste muito querer, neste almejar feito de mil sonhos, materiais de construção do inconsciente. É a cidade dos sonhos.
Em cada jardim da minha cidade, existes tu, feito um universo fantástico, és céu por sobre o meu corpo, templo, catedral que me abriga. É desta falta, desta ausência que me vou alimentando de ti. É assim , desde que me conheço, que te desconheço, que desejo, que te imagino, que te vejo. Que sonho que te revejo.
Lago calmo beijando as margens, rio agitado galgando o leito. É assim de novo, e ainda uma outra vez, tantas as vezes assim em que te desejo, que te sonho , que te sinto .
Nas ruas da minha cidade, existem manhãs de sol claro, cheiros aos molhos, pão fresco e lírios acabados de colher. Nos varandins , flamejam lençóis de linho bordados com desenhos de girinos prateados. São colchas, dosséis, tecidos adamascados a ondular na brisa leve e morna que, por instantes se detêm no parapeito a namorar o varandim. É o desejo que voa, através do sonho, e vem pousar manso e doce dentro de mim.
São todas estas cidades que imagino, não as muitas de Calvino, estas são sonhados por mim.
E há uma praça, dormindo à sombra do arvoredo, onde nos encontramos, onde deixamos de andar sós, que não é exacta ciência, nem é tão-pouco um segredo, é o caminho a percorrer o preço de uma existência a pagar para sermos nós – hoje e aqui, sem condição de degredo. É, olhando-me de um outro modo; aqui e agora, conseguir chegar, após uma busca imensa na procura do lugar; sim – a praça, onde sinto, onde sei que é lá que a nós vou encontrar.
Vejo um sino, no alto da torre sobranceira, não chora, não tange, mas canta a alma de uma cidade encantada, em tons de azul e ouro fino, dióspiro e colibris. Chegou o passarinheiro Papageno….dá-me a tua mão enfrentemos juntos a Rainha da Noite !
Na minha cidade não há trevas.
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