09 julho 2010

Thanatos II

O canto gregoriano ecoava através do mármore fendido pelos calores do incêndio que tinha quase destruído toda a igreja.

Próximo dali ouvia-se o tilintar de chaves, uma delas rodava na fechadura, cruzando-se este som com o sibilar discreto dos fiéis que vinham para a oração. M. sentou-se no banco de madeira corrido e ficou ali, parada, a olhar para a imagem de Cristo ressuscitado.
Suplicava com os olhos, mas a fé fugia-lhe a cada instante que passava; Não sabia porque tinha ali entrado, ocasionalmente fazia-o, sem saber qual o impulso que a levava ali.
Fora da igreja, fazia sentido entrar nela, mas passado que era o enorme portal, deixava de entender o porquê de lá estar.
Naquele dia, em vez de desfiar das contas do rosário por entre os dedos das mãos, M. desfiou outras contas, uma a uma, das mãos passaram para a boca...
Ao fim da tarde jazia inerte, de olhos fixos na imagem do Cristo Redentor.
Não sei se foi Deus ou o Diabo que a vieram buscar...

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