07 julho 2010

Thanatos













Egina andava cansada, cansada de tudo e de todos. Olhasse para onde olhasse, apenas via injustiças e, apesar de tudo,   tinha a pretensão de querer mudar os outros, o mundo ao seu redor. Sonhava tornar alguém feliz.
Anos e anos de um casamento desfeito tinham-lhe fragilizado a mente e o corpo. Esperava ela que,  saindo e cortando esse laço,   a sua vida melhorasse.
Foi o principio do fim, crónica de uma morte anunciada , bebendo gota a gota cada dia transformado em fel.
Doía-lhe dar-se sem sentido, sem retorno.
Via claramente que a sua abnegação e  o altruísmo com que se dava,  de nada serviam. Sentia-se  inútil.
Egina continuava sempre a persistir na busca da felicidade, todos os dias se propunha com firmeza, revestia-se de paciência; havia quem lhe dissesse que tinha um ar seráfico. Nem era nada  isso que ela pretendia!!
Bem no seu  íntimo nutria pequenos sentimentos de vingança, sempre que as coisas , as pessoas não se lhe apresentavam a jeito.
Legitimamente, pensava ela, sentia-se no direito de pedir alguns pequenos gestos de carinho e de afecto. Mas, à partida, eram-lhe linearmente recusados. Egoisticamente negados!
Egina passava fome, fome no corpo e fome na alma; havia dias em que comia apenas pão com manteiga e alguma água de  café para enganar uma das vozes que lhe roíam no corpo, Chegava à noite e bebia água, muita água ou , então mais uma chávena de café , uma espécie de mistela com açúcar sempre  era algo quente que metia na boca.
Evitava movimentar-se em demasia para que o apetite não lhe aparecesse de rompante e a fizesse cegar de desespero, tal as dores que lhe apertavam o estomago.
Já não chorava, de nada servia. Tinha perdido tudo na vida, apenas por ironia ainda conservava a vida que teimava em não a deixar. Olhava-se no espelho, e dentro dos seus olhos escuros como bréu, tinha deixado de se conhecer; dizia para si própria :- amanhã acabo com isto, escrevo uma carta e deixo as minhas ultimas instruções.
No dia seguinte novo alento que lhe servia de desculpa para mais um dia de tormento e que permitia viver mais umas horas. Eram ainda os três filhos que a impediam de se acabar por ali,  e a esperança que ele a olhasse de uma forma especial e entendesse que o drama maior  dela,  era ele mesmo. Chamava-se Narciso.
Narciso era um ser egocêntrico mas , em simultâneo encantador, manipulava a seu bel-prazer, servindo-se dos outros como e quando queria; mas de uma forma subtil. Era um sugador de energias! Das positivas claro está! Das outras não queria nem ouvir falar. Todos à sua volta tinham o dever de estarem  alegres, felizes e de bem com a vida. Se assim não fosse , de imediato se afastava, dizendo que não queria problemas – já tinha tido tantos na vida que se recusava a ter mais um, por mais ínfimo que fosse!
Optando por essa lógica, subtraia-se à vida , fugia dela , refugiava-se no seu castelo, algures no meio da serra e das fragas, pelas quais o vento passava ululante e o calor deixava secas; abriam estas,  grandes brechas quando a trovoada se abatia nos montes a perder de vista. Toda a vasta penedia era abalada como se um gigante a calcasse, acendendo um luzeiro imenso.
Na aldeia  consideravam-no um ser estranho, misógino. Altas horas da noite, já madrugada fora, observando o seu castelo, brilhava no escuro da noite uma luz no torreão, era Narciso acordado, rilhando as mágoas e ignorando a vida a passar entre as ameias.
Egina tinha consciência de tudo, sabia que ele era explorado pela criadagem, sabia como faziam pouco dele, apenas o serviam por interesse , tentando subtrair  tudo o que fosse possível, dando tão pouco ou quase nada em troca. Narciso pensava no futuro, em troca de algum pecúlio, tomariam conta dele. Como estava enganado! Os afectos não poderiam nunca ser comprados, apenas existiriam simulacros, gestos dissimulados e interesseiros de falsos sentimentos,  enquanto o dinheiro corresse pelas mãos untadas de uns tantos,  aparentemente servis.
E ela? Não ousava sequer apontar-lhe a crua verdade, com medo de o tornar  mais irascível, medo que se afastasse ainda mais e que cortasse o débil fio que os prendia ainda.
Calava-se e sofria.
Esgotava-se em si própria, sem força anímica para continuar, chegou um dia em que Egina desistiu da vida.
Na manhã seguinte, num banco de jardim, frente ao rio que corria sereno, um corpo esquelético e vazio jazia abandonado. Na mão segurava ainda um sobrescrito fechado, que dificilmente lhe conseguiram arrancar...
Histórias de vidas desperdiçadas, que nos levam a pensar que a vida é apenas e só uma, não temos o direito de a desperdiçar, mas arrogamo-nos no direito de acabar com ela...
Levei a vida inteira a recolher o testemunho de Egina. Aqui deixo à luz do dia o inicio do mistério que se encerrava no sobrescrito fechado, retirado das mãos crispadas pelo estertor da morte...


Na Grécia Antiga,  na  mitologia, entende-se que Tânatos (Thanatos), filho de  Nix (noite) e Érebro (escuridão do mundo inferior) era irmão gêmeo de Hípnos.
 
Thanatos era a personificação da morte, que nascido em 21 de agosto, tinha essa data como o dia preferido para arrebatar as vidas enquanto Hípnos era a personificação do sono.
 
Os irmãos gêmeos habitavam os Campos Elíseos (País de Hades, o lugar do mundo subterrâneo).
 
Segundo Homero, o deus Hipnos vivia em Lemmos e casou-se com Grácia Paitea que lhe fora concedida por Hera, em troca de seus serviços realizados. Hípinos era representado em foma humana e se transforma em ave antes de dormir. Também aparece representado na imagem de um jovem com asas que toca uma flauta cuja melodia faz os homens dormir e ao se locomover, deixa atrás de si, um rastro de névoa.
 
Thanatos era representado por uma nuvem prateada que arrebatava a vida dos mortais. Também foi representado por homem de cabelos e olhos prateados. Seu papel na mitologia grega é acompanhado por Hades, o deus do mundo inferior.
 
Thanatos é um personagem que aparece em inúmeros mitos e lendas, assim como a parece na história de Sísifo e do rei Midas, que por serem as mais importantes se dispersaram com maior facilidade.
 
THANATOS NA HISTÓRIA DE SÍSIFO
 
Uma grande ave sobrevoou os céus de Ephyra, uma cidade que veio a se chamar Corinto mais tarde. Depois de um mergulho vertiginoso a águia se foi levando em suas garras fortes, a jovem Egina.
 
Sísifo, o rei de Ephyra a reconheceu e interpretou a águia como mais uma das metamorfoses de Zeus, o deus dos deuses, que tinha por hábito transformar-se em animal para procriar com as mortais.
 
Asopo, o deus-rio, lhe perguntou sobre o destino que teria levado a filha e Sísifo, famoso por sua astúcia e maestria em truques, propôs ao velho deus-rio preocupado com sua filha, que lhe daria todas as informações, mas em troca, queria uma fonte de água na cidade de Ephyra.
 
Fecharam o acordo e depois de feito a fonte, que recebeu o nome de Pirene e foi consagrada às Musas, Sísifo lhe deu todas as informações sobre Egina.
 
Com isso Sísifo despertou o ódio de Zeus e Thanatos foi designado para levar o rei ao mundo dos mortos.
 
Sísifo com toda a sua maestria em truques elogiou Sísifo por sua irresistivel beleza, tocando-lhe todas as vaidades e ofertou-lhe um colar para enfeitar seu pescoço.
 
Depois de colocado o colar, este serviu a Sísifo como coleira com a qual aprisionou o jovem Thanatos.
 
Assim o grandioso rei Sísifo manteve a morte aprisionada, evitando que qualquer pessoa ou ser vivo viesse a morrer.
 
Não recebendo mais almas em seu reino, Hades, o deus dos mortos e Ares o deus das guerras que precisava da morte para findar as batalhas manifestaram-se quanto ao aprisionamento de Thanatos por um mortal.
 
Hades libertou Thanatos, ordenando-lhe que lhe trouxesse o rei Sísifo para o mundo  dos mortos.
 
Segundo a lenda, Sísifo morreu de velhice.
 
THANATOS NA HISTÓRIA DO REI MIDAS
 
O filho de Zeus, Dionísio (para os gregos) ou Baco (para os romanos), ao reaver Seleno, seu pai e mestre, que fora salvo por Midas depois de ter se perdido, concedeu-lhe um dom (que mais pode ser encarado com uma maldição), transformar em ouro tudo o que tocasse.
 
Midas já estava sendo levado por Thanatos (morrendo), quando o herói Héracles (Hércules) é recebido em seu palácio e expulsa o deus da morte para fora do castelo.
 
Opondo-se a Thanatos que representa a morte, o termo final da existênica de todos os mortais, aqueles que não escapam à sua visita cedo ou tarde, encontramos Eros, o deus do amor, que promove as paixões e provoca a vida.
 
Atualmente dá-se o nome de Tanatoloiga à ciencia se ocupa da morte e dos problemas médico-legal relacionados com a medicina legal.

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