15 fevereiro 2011

Resposta a um comentário anónimo e cobarde

A poesia não precisa de rimar para fazer sentido.
Viver só sente quem não despreza o ter vivido
Pois para aqueles que não vivem e nada sentem
É como se a vida nunca tivesse acontecido.

Moleza de espírito impressionante
“Inofensividade” que revela
Torna-se assim irritante
Quem opina, ele ou ela….
E plena de brutalidade sim,
Quem só reconhecer sabe
O brutal que é não saber
Um factor in-ofensivo
A mim não ofende quem quer.
Quanto à falta de moralidade
Conceito abstracto pelo meio
Volto a escrever só não sente
Quem da vida tem receio.
Quanto aos poemas omissos
Cada um vê o que quer
Lê e retira ilações
Eu apenas escrevo de acordo
Com as minhas disposições.
Sou livre de ir e vir, sou como uma pena ao vento
Se choro , rio ou sorrio,
Se faço da poesia passatempo
É comigo, e só comigo
E penas volto a dizer,
leva-as o vento também
Tal como as palavras vãs, ocas e desprovidas
De qualquer forma de sentir
Cada um faça o que quer
Dono do seu porvir.
"- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe"

A propósito de ter citado José Régio: aí vai...o Cântico Negro


Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,E nunca vou por ali...


A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...


Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...


Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...


Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.


Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!


José Régio in Poemas de Deus e do Diabo

1 comentário:

Arnaldo dos Santos Norton disse...

Minha querida amiga ! Não ligue. Sabe que a ignorância é atrevida, não sabe ? Mas, se um ignorante fez com que Vc escrevesse um texto como esse, então já teve alguma utilidade.
Gostei.
Um fraterno abraço.