23 novembro 2009

Via Láctea

Num planeta distante, a anos luz do sistema galáxico H-5, existiam milhões de seres que se afirmavam todos diferentes e todos iguais entre si.
Imediatamente começam por aí as idiossincrasias destes habitantes intra-planetários.
Dotados pelo grande Mestre do Cosmos de características superiores aos habitantes de outros planetas, estranhamente se degladiavam , infligindo sofrimento e numa constante manifestação do caos.
Usavam para sua locomoção, estranhos pedaços de metal de cores classificadas como primárias, em que se encerravam lançando-se em conduções frenéticas, acelerando o ritmo cardíaco dos próprios e, de com quem eles partilhavam esses momentos apelidados de “passeios”.
Foi por me ter lembrado de um destes momentos que decidi passar para o meu registo de bordo o seguinte:
- Imbuído de um acto de aculturação apreendido ao longo dos tempos e , segundo um código de boa educação, para facilitar a entrada da sua companheira extra-terrestre, abriu a porta do veículo ajudando-a a acomodar-se numa espécie de almofada em suspensão que era comum aos dois .
- Juntos rumaram até uma vasta extensão de águas revoltas, estabilizando na beira do abismo o motor que , prontamente correspondeu ao comando.
- Invadidos que foram por um processo químico que rapidamente alastrou a cada centímetro dos seus corpos, experimentaram um elevado nível de prazer que os deixou em processo de quase ebulição, traduzindo-se no final por uma fusão íntima do intervenientes, como se de um processo de alquimia se tratasse. Um pedaço de Tempo transformado em verdadeira Arte Real. Findo que foi este momento e no trajecto de volta, o elemento masculino encerrou-se num mutismo avassalador e desde então nunca mais foi o mesmo. Enclausurou-se no meio uma massa protectora chamada casulo, construída de vários materiais, que permitem aos seres humanos sentirem-se em completa segurança - pensam eles.
E ela esgotada com a frenética actividade e alteração química a nível psicossomático permitiu de um modo involuntário que os seus circuitos se desintegrassem e ardeu ali mesmo pulverizando-se na poeira estelar.
- Foi assim que surgiu a Via Láctea, pedaços de emoções perdidas no espaço.
- Actualmente quando olho o vasto azul pontilhado de luz, recordo-me de mim sem saber onde pára o corpo que perdi algures no Cosmos!

1 comentário:

luís filipe pereira disse...

Não sendo uma temática ou género literário que me fascine, reporto-me às modalidades de ficção científica, etc, li com genuino agrado este texto que se revela vuidado e exigente no processo de escrita, apreciei a mensagem implícita, ou seja, o sentido alegórico que encontrei neste conto e, sobremaneira, gosstei do epílogo que dá ao texto sob a metáfora da via láctea como "pedaços de emoções perdidas no espaço", pelo que,emotivamente, foi um óptimo pedaço de tempo para mim esta leitura. Voltarei mais vezes,

agradeço-lhe a gentileza do comentário que deixou a um poema meu no meu blog.
saudações literárias
l. filipe pereira