26 maio 2011

Cloreto de (s)ódio



(nú feminino- desconheço o autor) 
Acordou sonolenta, ao sentir nascer, furtiva, uma lágrima túrgida e morna que teimava em ficar no canto do olho.
Testemunha incómoda do muito que gostaria de ignorar, do que não quereria saber nunca. Era essa minúscula gota que a tinha feito sair do sono e acordar para a realidade.
Aquela divisão da casa achava-se envolta na maior penumbra, uma quase perfeita escuridão sepulcral. Estendendo as mãos para o vazio, nada mais encontrava para além dele, senão a consciência estranha de si mesma.
Por instantes teve uma antevisão daquilo que julgava ser a Morte. Rapidamente afastou tal ideia do pensamento.
Quantas vezes, durante o dia, imaginou ou, desejou mesmo morrer, mas chegado que era o véu escuro da noite dissipava-se como por encanto esse absurdo pensamento.
Agora , ali, àquela hora da noite, uma quase madrugada, sentia-se prisioneira, mas o estado de letargia era tanto que se deixou ficar quieta, parada, quase que perdida no tumultuar dos pensamentos.
A lágrima secou entretanto,  e estendendo a mão para a mesa de cabeceira, ligou  a luz do candeeiro.
O quarto ganhou nova dimensão, num abrir e fechar de olhos pensou que com o nascer do sol, novamente nasceria a esperança de um  dia  pleno de  existência.

4 comentários:

OceanoAzul.Sonhos disse...

Perante antevisões que nos perturbam é sempre bom ver nascer um novo dia de esperança, um novo nascer de sol.
abraço
oa.s

Celso Mendes disse...

Se não houver os sonhos e a esperança num novo dia, não haverá um novo dia e sim os mesmos velhos e cinzentos dias e noites. Um belo texto, muito interessante e inteligente.

beijo

Unknown disse...

Celso, sabe... tenho alguém , meu amigo, que me disse que este texto está pastoso, cheio de adjectivações. Confesso achar que ele tem razão, mas....por outro lado, interrogo-me...será assim??? Talvez nem a Florbela escrevesse assim! a pingar melaço !

Anónimo disse...

Arrobamiga

Antes de tudo o mais, deixo-te aqui o meu muito obrigado por:

1) me teres visitado, o que para mim é excelente; gosto muito de escrever, mas também gosto muito de que... me leiam;

2) me proporcionares este texto muito bom. Adjectivado em demasia? Nada, nada. O amigo que assim to diz está apenas a mangar contigo...

3) escreveres tão bem, tão sentidamente e tão intencionalmente. Cada um gosta do que gosta; eu gosto; e, finalmente

4) me teres pedido a minha opinião sobre este magnífico exercício da escrita. E em termos tais que... até fico envergonhado, pois penso que não os mereço... rsrsrs

Parabéns.

Qjs = queijinhos = beijinhos

ET - E mesmo sem te pedir autorização, vou colocar esta minha opinião também na Travessa