Às vezes dói-me. E dói-me muitas vezes. Uma dor fina no peito, do lado esquerdo. No meu lado esquerdo, embora me digam que o coração não dói!
Mas a mim dói-me o coração. Dói quando leio as noticias dos jornais , quando oiço os noticiários televisivos, quando vejo documentários , quando sou apanhada desprevenida, mesmo que seja o chamado “serviço público de televisão” – que ainda não compreendi muito bem que serviço público é este - com documentários a justificar a existência dos touros ou, em outro patamar, dói-me ao ler a noticia do jovem de 18 anos que perdeu pai e mãe, esta por causa de um cancro ladrão, e que, não satisfeitos os alegados desígnios do destino, levam o rapaz a passar fome; sem família, sem casa, sem protecção , a mendigar um comida junto de uma esquadra de policia.
Dói-me quando vejo imagens sobre comportamentos violentos, crueldade, a ausência de valores entre os adolescentes ( muitos deles oriundos de famílias desfeitas) a par com um estado quase acéfalo .
Dói-me a falta de ideais, a política calculista, a pobreza de espirito, a ausência de elevação de ideias. E caminhamos assim cegos para o abismo.
Dói-me tanta coisa, que temo , um dia destes ficar insensível à dor, porque não quero que me doa mais.
A juntar a isto, há a minha dor pessoal, sentir que as pessoas que amo , também elas carregam as suas dores e eu, sem lhes poder valer.
Chego a pensar que tanta dor junta é masoquismo. Dou por mim a inventar estratagemas, mecanismos de fuga – Morreu? Bom....assim já não sofre mais... não sei se, pelas leis da morte se foram libertando parafraseando Camões.
1 comentário:
Arrobamiga
Volto aqui e volto para te dizer uma outra vez que escreves muitíssimo bem.
O coração dói, concordo contigo, mas há que o domar, que o ultrapassar, que o descasar da dor.
Quem foi que escreveu que...
O poeta é um fingidor
finge tão completamente
que chega a sentir a dor
a dor que deveras sente?
Sabe-lo tu, certamente
Qjs
Na Travessa estou certo que nem sentes a dor...
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