17 maio 2011

R.X.

 
Pintura de Francisco Metrass - Só Deus
Uma das obras primas da pintura romântica portuguesa, sobre um dos seus principais temas: a tragédia humana.
Lembro, como se fosse hoje, a primeira vez que te vi. Olhei de soslaio, não sabendo que, anos mais tarde te continuaria a olhar desse mesmo jeito.
Estou proibida de te olhar de frente, olhos nos olhos. Hoje é maior a timidez que sinto, em relação a tudo o que se passou naquele tempo. Quando te vejo existem verdadeiros tsunamis  dentro de mim, a terra saí da sua rota e tenho a impressão que até a conhecida Lei da Gravidade fica alterada, tal a tontura que sinto. 
Não sei sabes, ou se sentes, mas esquadrinho-te com o olhar demoradamente no curto espaço de  tempo em que estou contigo; nada sobra  que não passe por esta estranha máquina de RX. E depois...bem depois, quando te vais embora, fico a saborear lentamente a memória de  cada pedaço do teu corpo, gerindo esta estranha sensação até ao próximo encontro, uma vez mais feito de  um outro toque fugaz. Fica-me o teu perfume, impregnado nas minhas mãos. E esta sofreguidão de ti não vai acabar nunca. Estrangula-me este desejo do abraço e do beijo que não dou; quando te vejo partir finjo que tudo está bem, sorrio para, no instante seguinte,  abrir as portas do meu céu e deixar que as nuvens descarreguem gotas de água salgada sobre a  pele ressequida.

1 comentário:

Celso Mendes disse...

Lembranças gravadas que despertam emoções são como sonhos aprisionados em frasco âmbar.

Belo texto!

Beijo.